sexta-feira, 31 de dezembro de 2004

O meu desejo para 2005

Que este 2004 pré-socrático represente o nível zero da política portuguesa.
Que em 20 de Fevereiro de 2005 nos recordemos da eterna limpidez de Sophia e possamos dizer que entramos finalmente no ano que esperávamos, no mês inicial inteiro e limpo onde emergimos da noite e do silêncio e livres habitamos a substância da democracia.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2004

A inércia

Da recente entrevista de Eduardo Lourenço ao jornal "O Diabo" retive uma ideia-chave para a interpretação da infindável novela da adesão turca: "a construção da União Europeia está a fazer-se por inércia".
É notório que o alargamento ocorre sem qualquer sustentação numa matriz idiossincrática comum (e agradeço encarecidamente que não me venham aborrecer com a Constituição Europeia).
Alargamo-nos até onde nos permitem os mares e a Rússia. Não haja ilusões, o chamado "projecto europeu", actualmente, resume-se a isto!

terça-feira, 30 de novembro de 2004

Os Diários de Che Guevara

Este filme, apesar de assentar numa narrativa sofrível, constitui um "quase-documentário" sobre a América Latina actual. A fotografia, notável, procura retratar gentes e lugares que, nos anos 50, procuravam uma identidade perdida algures entre a tradição indígena e a cultura colonial.
Estes "diários de motocicleta" (no título original) são o relato de uma viagem interior pela coordenadas de uma utopia em gestação. Aqui se traça o retrato de um sub-continente que ainda hoje permanece unido por sonhos e por misérias comuns.

segunda-feira, 15 de novembro de 2004

O mundo a seus pés

O cenário do Congresso de Barcelos era assumidamente inspirado em Orson Welles. Quem não imaginava Kane ao ver Santana a discursar no palanque?
O globo envolvido pela seta laranja também "dava uns ares" do logotipo da agência espacial norte-americana, mas essa associação já não era tão imediata.
Ideias e projectos para o país é que não se vislumbraram, mas isso também ninguém esperava.

quarta-feira, 3 de novembro de 2004

Congratulations Mr. Bush!


Texas rules!

A vitória de Bush é quase inexplicável aos olhos da "Velha Europa". Mas deve ser lida antes de mais como um sinal claro de alerta. Não conhecemos verdadeiramente os Estados Unidos. Esta falta de conhecimento pode explicar muitos dos equívocos recentes ao nível da diplomacia transatlântica.

terça-feira, 19 de outubro de 2004

Primeiro Aniversário

Este blogue completou o primeiro aniversário no passado dia 26 de Setembro mas não está de parabéns. Longe disso!
A frequência de escrita tem sido, nos últimos meses, miserável.
Apesar do mau serviço, este não será com toda a certeza o último aniversário do "Hoje Há Tripas". Apesar da falta de tempo, permanece intacta a vontade de pertencer à globosfera, local ainda arredio dos devaneios censórios de Santana Lopes.

terça-feira, 12 de outubro de 2004

Tragicomédia

Aumentos na função pública e descida do IRS!
Confirmam-se as suspeitas antigas de que a governação demencial de PSL sairia muito cara ao país...

quarta-feira, 6 de outubro de 2004

PCP

A anunciada não recandidatura de Carlos Carvalhas a secretário-geral do Partido Comunista Português poderia ser uma lufada de ar fresco, um sinal de renovação, uma frincha de aggiornamento, qualquer coisa de sinal positivo para o partido e para a sociedade portuguesa. Mas sabemos que não será nada disto e muito provavelmente será o seu contrário!
Preparemo-nos para uma demonstração inequívoca do triunfo interno da ultra-ortodoxia comunista.

terça-feira, 28 de setembro de 2004

E o Porto aqui tão perto...

A cidade vai despertando na blogosfera. Lá fora, na (outra) realidade a afirmação é mais lenta mas vai chegar.

sexta-feira, 24 de setembro de 2004

Professores em casa

Há um anúncio publicitário radiofónico que devia ser banido imediatamente. Uma instituição de ensino superior que lecciona cursos orientados para o ensino afirma descaradamente e várias vezes ao dia que "Portugal precisa e precisará sempre de professores... e muitos!".
Isto não é publicidade enganosa, é um acto criminoso.

domingo, 19 de setembro de 2004

Ser ou não ser?

Um blogue com sabor dinamarquês e imagens de Cuba, alojado afectivamente numa cidade de ruas largas, fervilhante de comércio e com casinhas de dois andares pintadas de todas as cores possíveis.
É pecaminoso reduzir a mítica cidadezinha de Helsingor ("Elsinore" em inglês) ao Castelo de Kronborg. Para além deste ex-libris shakespeariano, Helsingor tem um portinho de pesca absolutamente delicioso, jardins interiores de uma beleza comovente e um vento cortante que nos empurra para a policromática rua principal, densamente percorrida por hordas de suecos e onde tudo se vende e quase tudo se compra.
Ao alcance da vista temos Helsinborg, do outro lado do estreito, que apesar de estar sob bandeira sueca mais parece uma continuação da dinamarquesa Helsingor, mas com um perfil mais cosmopolita e onde pontua um bairro de casinhas de madeira do século XVI encravado entre bairros aristocráticos e delegações de empresas multinacionais.
"Ser ou não ser?"... Carla ou Ophelia?

sábado, 11 de setembro de 2004

Aniversário do terror

Hoje, há três anos atrás, assitia em directo televisivo ao embate do segundo avião contra uma das torres do WTC.
Nos minutos e horas seguintes tentei em vão contactá-la.
Do outro lado da linha, no apartamento de San Francisco, niguém atendia o telefone e o medo começava a ganhar terreno à medida que os ponteiros avançavam no relógio da sala, onde a televisão debitava notícias contraditórias e especulava sobre as imagens repetidas vezes sem conta.
O telefonema pacificador só chegou algumas horas depois do embate. Foi como se, até aí, o tempo tivesse parado e nada fizesse sentido. Nesses momentos, as vítimas do ataque terrorista resumiam-se a uma parte de mim que vivia na Costa Oeste.
Chega a ser obsceno o egoísmo humano, mas a verdade é que deste dia 11 de Setembro recordo principalmente o telefonema que me devolveu a tranquilidade roubada pelas notícias da barbárie.

quinta-feira, 9 de setembro de 2004

Prova de vida

Se houvesse uma entidade que regulasse a blogosfera, a primeira atribuição devia ser a instituição da obrigatoriedade de realizar provas de vida no blog sempre que não se publicassem posts durante mais de quinze dias consecutivos.

terça-feira, 24 de agosto de 2004

Eternuridades

Absolutamente imperdível a mais recente sequência de "posts" do Luís Gouveia Monteiro sobre "amores trágicos" (a expressão é dele, para mim trata-se de um pleonasmo).

"History will be kind to me for I intend to write it" (W. Churchill)

O período estival foi fértil em derivas erráticas do nosso, também ele errático, PM. Guiado por critérios básicos de higiene mental, abstive-me de as comentar neste espaço.
Este período de repouso do Portuense, repartido de forma patriótica entre o Alto Minho e o Algarve, salpicado por incursões pelo Alentejo e pela Estremadura serviu para confirmar uma suspeita antiga. Ninguém leva PSL a sério (a começar pelo próprio PSL), o que poderá ser uma perigosa vantagem em próximos escrutínios eleitorais. De facto, com expectativas tão baixas, a simples abstinência de erros de governação grosseiros pode ser um trunfo!

terça-feira, 10 de agosto de 2004

Lisbon Revisited

(...)
Não me macem, por amor de Deus!

Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer cousa?

Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que haveremos de ir juntos?

Não me peguem no braço!
Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho.
Já disse que sou sozinho!
Ah, que maçada quererem que eu seja de companhia!
(...)

Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo...
E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho!

(Fernando Pessoa, "Lisbon Revisited", 1923)

A rivalidade entre o Porto e Lisboa (1872)

(...) existe uma incurável rivalidade moral, social, elegante, comercial, alimentícia, política, entre Lisboa e Porto. Lisboa inveja ao Porto a sua riqueza, o seu comércio, as suas belas ruas novas, o conforto das suas casas, a solidez das suas fortunas, a seriedade do seu bem-estar. O Porto inveja a Lisboa a Corte, o Rei, as Câmaras, S. Carlos e o Martinho. Detestam-se. As damas de Lisboa riem-se da pouca distinção, da pequena ciência, da falta de chique e de quê das toilettes do Porto? O Porto, rubro de ódio, cobre as suas senhoras da sumptuosidade dos estofos e das faíscas dos diamantes. (...)

O Porto tinha a Foz, a praia de banhos, rica, de um grande pitoresco de paisagem. Lisboa, rancorosa, improvisa Cascais, sítio enfezado entre pinheiros éticos e rochedos de ópera cómica.

(Eça de Queirós, "Uma Campanha Alegre")


quarta-feira, 28 de julho de 2004

Serviço Público



Porque problemas extraordinários exigem respostas extraordinárias, o HHT presta aos leitores um serviço gratuito de consultoria ambiental, passando a informá-los do seguinte:

O D.L. n.º 310/2002, de 18 de Dezembro, regula o regime jurídico do licenciamento do exercício e da fiscalização de diversas actividades, com particular destaque para a realização de fogueiras e queimadas (Art. 39º e Art. 40º, respectivamente).
No âmbito do referido diploma, estas actividades "carecem de licenciamento municipal", sendo referida expressamente a proibição de "fazer queimadas que de algum modo possam originar danos em quaisquer culturas ou bens pertencentes a outrem". A câmara municipal "pode autorizar a realização de queimadas, mediante autorização prévia dos bombeiros da área, que determinarão as datas e os condicionamentos a observar na sua realização".

Mais um exemplo a confirmar o que todos sabemos. A legislação existe, está "bem feita", é inequívoca, apenas enfermando do mal de não ser cumprida.

P.S. - Confrontado profissionalmente com a necessidade de licenciar uma queimada junto da câmara municipal da área em questão, não pude acreditar no que ouvia quando, do outro lado do linha, me afirmavam a pés juntos ser esta uma competência do Governo Civil... Estudei melhor a questão e cheguei à conclusão que o diploma a que se referiam com tanta segurança havia sido revogado há dois anos (pelo acima referido D.L. 310/2002)!! 
Num país onde quem fiscaliza desconhece a legislação em vigor, serão de espantar incêndios como o da Arrábida?

O Santana do PS

Ainda a propósito da última entrevista de Sócrates ao Expresso, importa reconhecer que se confirmam as semelhanças entre Santana e Sócrates, principalmente no que diz respeito à carência flagrante de ideias políticas, à superficialidade das respostas, à pose meticulosamente estudada, aos tiques pequeno-burgueses e à vacuidade confrangedora do discurso (cuidadosamente salpicado, porém, por citações que primavam por ser descontextualizadas e/ou excessivas).
Não se augura nada de bom para o futuro próximo da política portuguesa, em que o Executivo está a cargo da dupla populi Portas/Santana e a Oposição será, ao que tudo indica, liderada por Sócrates. O triunfo dos media representa, cada vez mais, o triunfo da mediocridade.

 

terça-feira, 27 de julho de 2004

Elegia II - Da Arrábida



Alta Serra deserta, donde vejo
As águas do Oceano duma banda,
E doutra já salgadas as do Tejo
...
Daqui mais saüdoso o sol se parte;
Daqui muito mais claro, mais dourado,
Pelos montes, nascendo, se reparte.
...
Os olhos meus dali dependurados,
Pergunto ao mar, às plantas, aos penedos
Como, quando, por quem foram criados?

Respondem-me em segredo mil segredos,
Cujas primeiras letras vou cortando
Nos pés doutros mais verdes arvoredos.
...
Punha-me a ver correr as águas frias
Por cima de alvos seixos repartidas,
Que faziam tremer ervas sombrias.

As flores, que levava já colhidas,
Passando pelos vales enjeitava
Por outras doutra nova cor vestidas.
...
Cuidei que se esquecesse nesta Serra
A dura imiga minha natureza;
Mas donde quer que vou lá me faz guerra.
...
 
(Frei Agostinho da Cruz)

Repetindo o post de 27 de Setembro de 2003, no segundo dia de vida do HojeHaTripas

Incêndios

Flagrante contraste entre um país em chamas e outro a banhos...
Quando devíamos estar a aperfeiçoar os planos de resposta às cheias e inundações, estendemos sobre a terra queimada as várias possibilidades de combater e prevenir incêndios... Portugal continua igual a si próprio.
Ao contrário de anos anteriores, a trágica dimensão dos últimos fogos provocou um debate alargado na sociedade que, espera-se, irá frutificar em medidas efectivas para prevenir e combater este flagelo sazonal.
É inadmissível que os primeiros incêndios do Verão continuem a ser encarados com a mesma naturalidade da abertura da época de caça!



NOTA: Os 1000 hectares ardidos este ano (até ao momento) na Serra da Arrábida são absolutamente incompreensíveis se nos lembrarmos da enorme importância da flora autóctone ameaçada, dos múltiplos alertas do último Verão, dos montantes investidos em sistemas de televigilância e da pré-candidatura a património natural da Humanidade. A presença de um Secretário de Estado no local não tem, neste momento, qualquer significado que não seja o reconhecimento da flagrante incompetência do seu Executivo nesta matéria.

quinta-feira, 22 de julho de 2004

Nobre mas pouco!

Sem abrigo, sem conhecimentos na área, sem compatibilidades, sem vergonha!

 


 

terça-feira, 20 de julho de 2004

Equívocos checos

É uma sensação estranha, mas agradável, encontrar a Câmara do Porto com a sua imponência majestática a dominar a Wenceslau Square, bem no coração de Praga.
 
 

 
 
Um nativo afirma a pés juntos que o edifício alberga o Museu Nacional, mas continuo irredutível. É a Câmara do Porto!
 
 

sexta-feira, 16 de julho de 2004

Era assim em 1873...

Em Portugal não há uma oposição perfeitamente e fortemente constituída e assinalada, não há uma maioria consistente e robusta e para manter os apoios oscilantes o governo acode submissamente às exigências dos pequenos corrilhos, promete, desdiz, cede, transige, compra, troca, vende, intriga, e cai de fadiga, apupado e corrido.
 
(Ramalho Ortigão, "Farpas")

A propósito da morte da Memória Inventada

 
  
 
A Memória Inventada (MI) tornou-se Missão Impossível e acabou. Era, para mim, um blogue de consulta obrigatória e dói-me retirá-lo da coluna dos "Vizinhos". Ainda não o fiz e provavelmente não o farei.
As sucessivas mortes anunciadas que varrem a blogosfera por estes dias atiram-me por momentos a imaginação para uma cama de hospital, na unidade de cuidados intensivos.
 
Há um dia em que acordo, olho para a cama da direita e vejo-a vazia. Sei mais tarde por alguém que o meu colega de quarto se tinha cansado de viver durante a noite,  enquanto eu dormia. Uma semana depois acordo com a cama da esquerda vazia e depreendo que também este colega se havia cansado de viver... Puro engano, sei mais tarde que estava perfeitamente recuperado e que, por esse motivo, fizera as malas de manhã cedo e partira lá para fora, pelo seu próprio pé, para um mundo que já só conheço pelas janelas deste quarto da UCI.
 
Tudo isto para dizer que o importante não é sair da blogosfera; o importante é saber o que se vai fazer sem ela. 
  

quarta-feira, 14 de julho de 2004

Pablo Neruda nasceu há 100 anos e 2 dias



A poesia acompanhou os agonizantes e estancou as dores, conduziu às vitórias, acompanhou os solitários, foi queimante como o fogo, leve e fresca como a neve, teve mãos, dedos e punhos, teve brotos como a primavera, teve olhos como a cidade de Granada, foi mais veloz do que os projécteis dirigidos, foi mais forte do que as fortalezas: deitou raízes no coração do homem.

A fuga - Parte II

A decisão de Vitorino é a todos os níveis preocupante e lamentável.
No plano pessoal, revela uma surpreendente falta de dedicação à causa pública e um descabido tacticismo na gestão da sua carreira política.
No plano nacional, evidencia inequivocamente a baixa atractividade da política portuguesa para os seus filhos mais ilustres. Só os medíocres ficam, mas até esses o fazem apenas por falta de alternativas.
À semelhança de Durão, também Vitorino abandona o barco. A diferença é que Vitorino vai ainda mais longe e recusa-se a embarcar!

segunda-feira, 12 de julho de 2004

Fina ironia

Poucos minutos depois da primeira entrevista de Santana Lopes à SIC como indigitado primeiro-ministro, a RTP transmite o filme "Herói Acidental".
Não falta sentido de humor aos rapazes do serviço público!

quinta-feira, 8 de julho de 2004

Landscape from Saint-Rémy (1889)

Gogh, Vincent Willem Van
1853-1890



Porque a Carlsberg não é só uma fábrica de cerveja, podemos encontrar em Copenhaga, no Museu da empresa (Ny Carlsberg Glyptotek) esta admirável pintura (óleo sobre tela). Por cá, a UNICER e a CENTRAL DE CERVEJAS investem em Festivais de Verão e Queimas das Fitas...


"Van Gogh's letters document that Landscape from Saint-Rémy was painted during the second week of June, 1889. Around the 9th June he wrote to his brother, Théo van Gogh, "I am working on two landscapes (size 30 canvas), views taken in the hills, one is the country that I see from the window of my bedroom. In the foreground, a field of wheat ruined and hurled to the ground by a storm. A boundary wall and beyond the grey foliage of a few olive trees, some huts and the hills. Then at the top of the canvas a great white and grey cloud floating in the azure. It is a landscape of extreme simplicity in colouring too".

terça-feira, 6 de julho de 2004

Porque a Poesia nunca morre

Quando o meu corpo apodrecer e eu for morta
Continuará o jardim, o céu e o mar,
e como hoje igualmente hão-de bailar
As quatro estações à minha porta

Outros em Abril passarão no pomar
Em que eu tantas vezes passei,
Haverá longos poentes sobre o mar,
Outros amarão as coisas que eu amei.

Será o mesmo brilho a mesma festa,
Será o mesmo jardim à minha porta.
E os cabelos doirados da floresta,
Como se eu não estivesse morta.

("Dia do Mar", Sophia de Mello Breyner Andresen)

quarta-feira, 30 de junho de 2004

O trampolim



Mais uma vez confirma-se o fado lisboeta. Ninguém deseja ser presidente da Câmara... Apenas sabem que para chegar mais alto têm que cumprir a via-sacra alfacinha.
É triste para a cidade este assumido desprestígio do cargo.

i carry your heart with me

i carry your heart with me (i carry it in
my heart) i am never without it (anywhere
i go you go,my dear; and whatever is done
by only me is your doing,my darling)
i fear
no fate (for you are my fate,my sweet) i want
no world (for beautiful you are my world,my true)
and it's you are whatever a moon has always meant
and whatever a sun will always sing is you

here is the deepest secret nobody knows
(here is the root of the root and the bud of the bud
and the sky of the sky of a tree called life;which grows
higher than the soul can hope or mind can hide)
and this is the wonder that's keeping the stars apart

i carry your heart (i carry it in my heart)


(E. E Cummings)



terça-feira, 29 de junho de 2004

O pântano

Nunca antes o pântano tinha andado na boca de tanta e de tão diversa gente.
O PS (o do Porto e o outro) diz que é preciso sair do pântano provocado pelos acontecimentos da lota matosinhense. A ala cavaquista do PSD murmura que a sucessão dinástica de Durão Barroso é pantanosa. Por fim, o BE que é quem "lhes bate forte" fala num pântano político que só pode ser resolvido por eleições antecipadas.
Espera-se que a selecção nacional não se atole...

domingo, 13 de junho de 2004

Nova(?) Democracia

Tenho de admitir que gostava de ver o dr. Manuel Monteiro eleito para um mandato (ou mais) de eurodeputado. A ideia de sabê-lo entre Estrasburgo e Bruxelas é para mim extremamente agradável e até reconfortante - não pelo que fará no Parlamento Europeu, mas pelo facto de estar durante alguns anos a milhares de quilómetros do torrão pátrio. Sempre causará menos danos...

Verde, vermelho e amarelo

A profusão de bandeiras nacionais nas janelas lusitanas não merece qualquer reparo negativo. Receio contudo que estas sejam tomadas por bandeiras da selecção nacional de futebol, o que já se torna preocupante.
É que deste equívoco podem resultar danos ainda maiores na auto-estima dos portugueses; o que a derrota contra a Grécia, aliás, já comprovou.

sábado, 12 de junho de 2004

Sensibilidade e bom senso

O respeito pela memória de Sousa Franco e pelo regime democrático exige o completo apuramento de responsabilidades pelos inqualificáveis acontecimentos na Lota de Matosinhos.
A disputa fratricida pela autarquia já há muito ultrapassou os limites da urbanidade e decência. A total ausência de decoro manifestada por ambos os lados só permite extrair uma conclusão válida. O próximo candidato do Partido Socialista à cadeira presidencial matosinhense não poderá ser nenhum dos dois actuais pretendentes. A bem da dignificação da vida política.

quinta-feira, 27 de maio de 2004

Gelsenkirchen, 26 de Maio de 2004




"E aqueles que por obras valerosas
Se vão da lei da morte libertando:
Cantando espalharei por toda parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte.

Cessem do sábio grego e do troiano
As navegações grandes que fizeram;
Cale-se de Alexandro e de Trajano
A fama das vitórias que tiveram;
Que eu canto o peito ilustre lusitano,
A quem Netuno e Marte obedeceram.
Cesse tudo o que a Musa antiga canta,

Que outro valor mais alto se alevanta."

(Luís de Camões, "Os Lusíadas")


segunda-feira, 10 de maio de 2004

O Porto, território dinâmico de afectos e cumplicidades

A cidade não poderia nunca ter chegado a esta letargia! A derrota no referendo à regionalização e o apagamento comprometido dos seus mais recentes líderes autárquicos não podem explicar em absoluto o gradual desaparecimento da geografia política, social, económica e cultural a que a urbe foi votada.
O momento é particularmente grave. A cidade encontra-se refém de um modelo de gestão economicista, cujas linhas estratégicas são definidas em termos de rubricas financeiras, como se a capacidade de administração da coisa pública fosse cabalmente avaliada num relatório e contas ou numa demonstração de resultados.
O adiado sonho portuense da metrópole centralizadora (prefiro chamar-lhe aglutinadora) do Noroeste peninsular vai-se comprometendo diariamente e soçobra exangue às mãos laboriosas do empreendedor engenho galego.
Isolados na olissiponense torre de marfim, os políticos da(o) capital rejubilam sornamente com a falta de rasgo, a subserviência, o esvaziamento intelectual e os tiques provincianos de um certo Porto que julgam conhecer. Na sua arrogância centralista, não conseguem perceber que a falência do capital económico e político do Norte é, a prazo, a falência de um dos esteios da identidade nacional no contexto da Europa das regiões. É também a falência de Lisboa, enquanto capital de um não-país.
Curiosamente, ou talvez não, assistimos hoje na blogosfera a um movimento em contra-corrente de afirmação da matriz idiossincrática portuense. Esta proliferação de blogs materializa um anseio colectivo que corta com a tradicional sociedade civil portuguesa, profundamente egoísta, ensimesmada e abúlica.
A blogosfera é, porém, um fórum de limitado alcance, do qual se econtra excluída uma fracção significativa da população. Malgrado estes gritos serem genuínos e extremamente válidos, urge-nos encontrar novos espaços e, principalmente, espaços mais reverberativos.
Mãos à obra, o Porto merece!

terça-feira, 4 de maio de 2004

Avenida dos Aliados

O Hoje Há Tripas dá as boas vindas ao seu novo vizinho na blogosfera. Entrem, estejam à vontade!
Contem com mais um aliado à vossa causa.

segunda-feira, 3 de maio de 2004

"King Lear" - uma tragédia política portuguesa

Durão Barroso (no papel de Lear) dirige-se, desgostoso, à sua filha Cordelia (M. Ferreira Leite) e remata com a sua preferência por Regan (Paulo Portas), irmã desta:





Lear - I prithee, daughter, do not make me mad:
I will not trouble thee, my child; farewell:
We'll no more meet, no more see one another:
But yet thou art my flesh, my blood, my daughter;
Or rather a disease that's in my flesh,
Which I must needs call mine: thou art a boil,
A plague-sore, an embossed carbuncle,
In my corrupted blood. But I'll not chide thee;
Let shame come when it will, I do not call it:
I do not bid the thunder-bearer shoot,
Nor tell tales of thee to high-judging Jove:
Mend when thou canst; be better at thy leisure:
I can be patient; I can stay with Regan,
I and my hundred knights.

(William Shakespeare, "King Lear")

segunda-feira, 26 de abril de 2004

Abril foi só isto, com todos os erres!

Esta é a madrugada que eu esperava, o dia inicial inteiro e limpo onde emergimos da noite e do silêncio e livres habitamos a substância do tempo.

(Sophia de Mello Breyner Andresen)


terça-feira, 13 de abril de 2004

Erro crasso!

Os rebeldes iraquianos, ainda pouco rodados nisto dos convívios internacionais, não dominam as subtilezas da fisionomia asiática e tomaram por japoneses os civis chineses que raptaram - e que, entretanto, já libertaram.
Este erro, não fosse a prontidão com que o desfizeram, poder-lhes-ia ter custado muito caro. Já se imaginou como seria uma intervenção militar e/ou política chinesa no conflito do Iraque?

Que farás tu, meu Deus, se eu perecer?

Que farás tu, meu Deus, se eu perecer?
Eu sou o teu vaso - e se me quebro?
Eu sou tua água - e se apodreço?
Sou tua roupa e teu trabalho
Comigo perdes tu o teu sentido.

Depois de mim não terás um lugar
Onde as palavras ardentes te saúdem.
Dos teus pés cansados cairão
As sandálias que sou.
Perderás tua ampla túnica.
Teu olhar que em minhas pálpebras,
Como num travesseiro,
Ardentemente recebo,
Virá me procurar por largo tempo
E se deitará, na hora do crepúsculo,
No duro chão de pedra.

Que farás tu, meu Deus? O medo me domina.


(Rainer Maria Rilke - tradução: Paulo Plínio Abreu)

segunda-feira, 12 de abril de 2004

Afinal...

Quando o dr. Mário Soares falou na possibilidade de incluir a via negocial na relação com os terroristas, caiu o Carmo e a Trindade. Ao que julgo saber, os americanos têm mantido intensas negociações com os rebeldes iraquianos e até acordaram recentemente algumas situações de cessar-fogo. Esta nem o Luís Delgado consegue explicar!

terça-feira, 6 de abril de 2004

Entrevista com o sucessor de Ahmed Yassin

Nada de novo nesta entrevista, mas restam poucas dúvidas quanto à dimensão do próximo atentado em Israel...

segunda-feira, 5 de abril de 2004

G.N.R.

Foi notório que a emboscada no Iraque não surpreendeu ninguém. Também foi notório o desapontamento de alguns jornalistas com a pouca gravidade dos ferimentos dos nossos soldados. Caramba, nem deu para filmar um resgatezinho de avião para Portugal, como o da Maria João Ruela?

quarta-feira, 24 de março de 2004

Água pública ou água privada?

Numa fase em que se torna cada vez mais difícil vislumbrar em Portugal uma linha de orientação estratégica para o futuro modelo de Gestão da Água, lá por fora vai-se debatendo o assunto. E os argumentos utilizados são, convenhamos, mais sustentáveis...

segunda-feira, 22 de março de 2004

Os falcões em voo picado sobre a presa

Claro que, por definição, uma morte é sempre lamentável.
Esta morte, no entanto, não me choca particularmente pois o Sheikh Ahmed Yassin sempre se afirmou como um fanático entusiasta dos atentados suicidas, o que me leva a pensar que também não daria grande valor à sua própria vida.

Nas palavras de Sharon: "The state of Israel today hit the first and foremost head of Palestinian terrorism. His ideological basis was the murder of Jews and the destruction of Israel".

O principal problema reside no preço deste troféu pessoal de Sharon, que será elevadíssimo e pago muito brevemente por inocentes israelitas.

A espiral de violência no médio oriente ameaça descontrolar-se (ainda mais).

quinta-feira, 18 de março de 2004

Nostalgia

... de quando era com "isto" que se ganhavam guerras!



Estações

As estações de combóios só deviam existir para isto:





Admito, contrariado, que algumas partidas e chegadas de combóios também pudessem ocorrer, mas apenas para coroar estes momentos com os silvos metálicos das carruagens e o ruído difuso da mole humana em movimento pendular.
Tudo o resto está a mais e quem não consegue entender isto (ETA, Al-Qaeda e sucedâneos) encontra-se irremediavelmente apeado da nossa plataforma civilizacional.
Temo que tenham perdido, para sempre, o combóio da civilização.

segunda-feira, 15 de março de 2004

11 M

Tenho os olhos e o espírito inundados pelas imagens, pelos relatos e pelos comentários da barbárie.
Quero acreditar que o facto de Portugal parecer agora mais perto da mira terrorista em nada aumentou a repulsa que senti pelo atentado. Mas a verdade é que o casamento no Afeganistão onde foram mortos por bombardeamento (um "engano" da aviação norte-americana) perto de meia centena de convidados não me provocou a mesma indignação. Aliás, já nem sei se foi no Afeganistão ou no Iraque...
Por vezes o óbvio é difícil de aceitar. A vida humana é um valor universal, não é uma contingência geográfica ou política.

segunda-feira, 8 de março de 2004

Cavaco Silva

Macacos me mordam se esta digressão nacional para apresentação do segundo volume da autobiografia política não é uma descarada pré-campanha eleitoral!

quinta-feira, 4 de março de 2004

A estupidez humana retratada de frente



No melhor pano...

A Charlotte deixou-se levar pela emoção do momento e afirma, sobre Marc Dutroux, que "o único desejo que tenho é que o homem seja condenado à morte".
Claro que a mesma Charlotte já tinha escrito noutro post que não era "a favor da pena de morte", o que me permite dar-lhe o benefício da dúvida. De qualquer forma, foi uma decepção assitir a um post menos inteligente escrito pela bomba.
A minha posição inabalável perante a pena de morte pode ser consultada mais abaixo, num post de 11 de Janeiro. E não é um belga execrável que me vai desviar dessas convicções.

sábado, 28 de fevereiro de 2004

Lembra-te

Lembra-te
que todos os momentos
que nos coroaram
todas as estradas
radiosas que abrimos
irão achando sem fim
seu ansioso lugar
seu botão de florir
o horizonte
e que dessa procura
extenuante e precisa
não teremos sinal
senão o de saber
que irá por onde fomos
um para o outro
vividos

(Mário Cesariny)


sexta-feira, 20 de fevereiro de 2004

Ecologia - pensamento …?

Tendo simultaneamente criado e destruído, nos três posts anteriores, pontes entre a ecologia e algumas correntes ideológicas predominantes (faltaria analisar o marxismo, o liberalismo, o feminismo, o anarquismo e tantas outras), creio que a associação ideológia ao pensamento ecológico não é tão imediata quanto o Observador quer fazer crer e não é, em minha opinião, um exercício que acrescente valor a qualquer das partes do binómio. Apesar disso, devo confessar que a discussão académica do tema é extremamente tentadora e por isso não lhe resisti.
Aos maçados leitores apresento o meu pedido de desculpa e informo que os posts “normais” seguem dentro de momentos.

Ecologia - pensamento socialista?

Apesar da identificação clara de um adversário comum – a empresa capitalista transnacional – subsiste um materialismo subjacente nas abordagens de esquerda que coloca dificuldades substanciais à integração perfeita do pensamento ecológico e socialista.
A democracia social (pensamento socialista ocidental) visa o desenvolvimento do progresso humano na dupla dimensão material e moral.
O progresso material é assegurado pela manutanção do crescimento económico, sendo o progresso moral obtido por via do encorajamento de deveres e obrigações dentro da ordem social.
Neste âmbito, as desiguladades resultantes da busca de interesses pessoais só são permissíveis se beneficiarem os indíviduos que se encontram na base da hierarquia social, i. e., só através do crescimento é que a pobreza, a miséria e a exclusão social podem ser combatidos.
Esta atitude instrumental em relação às coisas naturais deixou muito pouco espaço para as preocupações ambientais.
Porém, o socialismo ético, retomado após o colapso dos modelos de planeamento estatal do leste europeu, focaliza-se na qualidade de vida de todos os membros da sociedade e atribui o ónus da responsabilidade moral aos Estados, organizações, empresas e indivíduos para fazerem as “escolhas certas” em relação às estratégias de investimento, aos contratos comerciais e ao consumo pessoal, numa clara evolução ideológica que começa a permitir a aproximação ao pensamento ecológico.
Ann Taylor em “Choosing Our Future” conclui que só o socialismo possui a perspectiva internacionalista apropriada para superar as diferenças nacionais e regionais que tendem a bloquear as iniciativas ambientais de largo espectro. O socialismo alargaria a dimensão de comunidade ao ponto de permitir superar as desigualdades globais e resolver problemas comuns.
A ética socialista reconhece a centralização humana como ponto de partida, mas mantém a lembrança permanente da necessidade de prevenir as imperfeições da ainda vigente visão tecnocrática da transformação socialista.
É todavia inquestionável a preocupação socialista pela justiça social aliada à necessidade de um ambiente saudável e seguro onde todos os membros da sociedade possam prosperar.

Ecologia - pensamento neoliberal?

Os liberais críticos contemporâneos, i. e., os defensores do neoliberalismo, celebram a operação dos sistemas de mercado capitalistas onde os indivíduos, os agregados familiares e as empresas empreendem uma competitividade e uma cooperação, de forma a assegurarem os benefícios do progresso material.
Este crescimento coloca dificuldades significativas - e em última análise intransponíveis - em termos da capacidade do ecossistema fornecer recursos naturais suficientes para satisfazer as necessidades humanas. É impossível o crescimento ilimitado baseado na exploração dos recursos limitados de um planeta.
O liberalismo e as suas atitudes em relação ao ambiente (e. g. comércio de licenças de poluição), baseadas nas concepções lockeanas da propriedade privada, apesar de pontualmente estabelecerem limites efectivos à delapidação de recursos, encerram um antropocentrismo subjacente, que é difícil de conciliar com as coisas não humanas numa perspectiva holística.

Ecologia - pensamento conservador?

No pensamento conservador, situado à direita do espectro político, surgiu uma alternativa ao domínio das abordagens neoliberais e socialistas relativamente ao ambiente.
O pensamento conservador refuta a tendência para associar o pensamento e a política ecológicos aos movimentos socialistas, preferindo considerar o ponto de vista conservador da Natureza como uma visão forte da forma de se viver em harmonia com o mundo natural. Os conservadores combinam, de forma intuitiva, um respeito pela Natureza com a convicção nas virtudes da propriedade privada.
Ao contrário do pensamento neoliberal, que considera as coisas naturais como simplesmente exploráveis, os conservadores encontram nas coisas naturais parte de uma rede de vida complexa, da qual os seres humanos são apenas uma parcela significativa.
John Gray no seu “Programa para o Conservantismo Ecológico” censura os pensadores de direita por deixarem resignadamente as questões políticas relacionadas com a ecologia nas mãos solícitas da esquerda. E vai mais longe, afirmando que as virtudes e as convicções conservadoras tradicionais se identificam de uma forma muito mais intensa com a teoria ecológica do que as políticas socialistas. O pensamento ecológico parece perder demasiado tempo a criticar os mercados capitalistas e a fechar os olhos às consequências do planeamento estatal.
Outro ponto de comunhão fundamental prende-se com o facto de, quer o pensamento conservador, quer o ecológico, realçarem de forma inequívoca a importância de uma perspectiva multigeracional, em vez do contrato de uma geração.
De igual forma, ambos tentam destruir a relação entre a crença num crescimento infinito e as condições para a prosperidade humana. Ambos acreditam que chegaremos irremediavelmente ao ponto de sermos obrigados a pensar imaginativamente com aquilo que temos.
O pensamento conservador consegue, de uma forma que não está ao alcance de nenhuma outra ideologia política, estar claramente consciente da importância do reconhecimento da complexidade, do risco e da incerteza, que constituem factores incontornáveis para a percepção da problemática ecológica.

"O poema não é feito dessas letras que eu espeto como pregos, mas do branco que fica no papel."
(Paul Claudel)

A Nova Esquerda

Li aqui algumas considerações sobre o que será a Nova Esquerda. Apeteceu-me, desde a primeira linha (aliás, desde o título do post), dar réplica ao esforçado mas pouco sucedido escriba. Admito que por falta de tempo e excesso de argumentos limito-me a linká-lo. Contudo, tomo nota imediata do seguinte excerto, que vai merecer em tempo oportuno uma réplica no HHT.

"De igual forma se explica porque a grande maioria dos movimentos "Verdes" são de esquerda. Na verdade, estes movimentos ditos ecológicos, não se preocupam o suficiente com o meio ambiente. Pretendem apenas um ambiente à sua maneira, com as prioridades pré-definidas e não determinadas pelo indivíduo. Qualquer pessoa consegue provar que um meio ambiente saudável é essencial ao bem estar e desenvolvimento económico. Da mesma forma, qualquer economista consegue demonstrar como tiramos proveito de uma política ecológica capaz. Não é preciso ser de esquerda para defender a floresta e acreditar na limpeza dos rios e dos mares."

De facto, a maioria dos movimentos ecologistas está situada à esquerda, mas os motivos não são os apontados pelo Observador. Na realidade, o seu lugar natural poderá ser, como futuramente tentarei explicar, à direita ou à esquerda, sem que isso represente qualquer contradição ideológica.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2004

Urbaneye Project

Nestes tempos orwellianos é imprescindível dar uma espreitadela ao que se vai fazendo no âmbito do Urbaneye Project.
Este projecto de investigação comparativa analisa a utilização de CCTV (circuitos fechados de televisão) em espaços públicos na Europa e tem por objectivo avaliar os seus efeitos sociais e políticos por forma a delinear estratégias para a sua regulação.
A equipa de trabalho é constituída por elementos de 7 países e inclui criminologistas, filósofos, cientistas políticos, sociólogos e geógrafos urbanos.

domingo, 8 de fevereiro de 2004

Rembrandt van Rijn – “The syndics of the drapers’ guild”

Nesta pintura famosíssima e absolutamente notável, Rembrandt junta as seis personagens (os cinco síndicos e o assistente) em redor de uma mesa, com o objectivo de contornar a formalidade típica nestes retratos.
O extraordinário pormenor de génio encontra-se, porém, no segundo síndico a contar da esquerda, prestes a levantar-se, evitando assim a indesejável representação dos cinco chapéus em linha!
Uma vez que a pintura se destinava a ser pendurada numa parede a grande altura, Rembrandt adaptou a perspectiva para esse fim, sendo notório que estamos a olhar para a mesa a partir de um plano inferior.




Anton Mauve – “Morning ride along the beach”

Cavaleiros passeiam calmamente pela praia de Scheveningen, a estância balnear situada às portas de Haia. Mauve recria na perfeição a atmosfera de um dia de Verão, com as sombras curtas, a areia solta, o calor e os espaços abertos.
Os sulcos de rodas conduzem a nossa vista até aos cavaleiros e, de seguida, até às figuras minúsculas perto do mar.
Pormenor curioso: um dos antigos proprietários desta pintura “apagou” os excrementos de cavalo na areia, por considerar que estes não eram apropriados. Aquando do restauro do quadro, os excrementos reapareceram.




quinta-feira, 5 de fevereiro de 2004

Rembrandt van Rijn- "The Nightwatch"

Continuo a "postar" as minhas obras de eleição no Rijksmuseum.
A tela da "Ronda da Noite" tem a particularidade de ter sido mutilada no séc. XVIII, por forma a caber numa parede de um edifício público. Este acto tresloucado levou ao "desaparecimento" de três personagens no lado esquerdo da tela...
A versão integral da tela é conhecida através de uma providencial réplica em miniatura, realizada antes da mutilação e que, apesar da fraca qualidade, tem hoje o privilégio de partilhar com a tela original uma das paredes do Rijksmuseum.




segunda-feira, 2 de fevereiro de 2004

Johannes Vermeer - "The kitchen maid"

Há neste quadro pormenores que, infelizmente, a blogosfera não permite partilhar. Mas aqui fica o lembrete para uma próxima viagem a Amsterdam. Minha ou vossa.



Ainda há paciência?!



segunda-feira, 26 de janeiro de 2004

Porque o amor fica sempre aquém da sua própria morte

O enorme defeito nos falhados - e a enorme vantagem nos bem sucedidos - é que os amores nunca morrem. Mesmo quando achamos que sim. Na verdade, limitamo-nos a esquecê-los de forma mais ou menos voluntária, mais ou menos consciente.
Alguns, esforçamo-nos de tal maneira para esquecer que acabamos por nos convencer de que morreram. Outros, mais desejados, adormecem-nos nos braços enquanto os embalamos e nunca mais nos lembramos de os acordar.

domingo, 18 de janeiro de 2004

Portugal e a cauda da Europa – um namoro recente ou uma paixão ancestral?

A decisão do alargamento a leste da União Europeia suscitou entre os portugueses um conjunto de inquietações. Porém, uma das poucas “vantagens” identificáveis neste alargamento parece consensual – Portugal deixa, de uma assentada, a incómoda posição da cauda europeia e ainda por cima sem mexer uma palha.
Ou seja, não interessa que mantenhamos o desempenho medíocre de sempre em quase todos os indicadores económicos, ambientais, culturais e sociais, desde que vão aderindo ao clube europeu novos países com desempenhos ainda piores do que o nosso. Delirante!
Naturalmente, qualquer português minimamente esclarecido consegue desde já adivinhar o rápido regresso de Portugal à caudal posição. O mesmo adivinhou Eça que, em Janeiro de 1872, já ia dizendo que “nós estamos num estado comparável somente à Grécia: mesma pobreza, mesma indignidade política, mesma trapalhada económica, mesmo abaixamento dos caracteres, mesma decadência do espírito. Nos livros estrangeiros, nas revistas, quando se quer falar de um país caótico e que pela sua decadência progressiva poderá vir a ser riscado do mapa da Europa – citam-se, a par, a Grécia e Portugal.”
Nem ele imaginaria que a Grécia já há muito nos ultrapassou e que os países agora arregimentados para esta Europa o farão em muito pouco tempo.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2004

Já passaram 12 anos e cada vez estamos mais na mesma

Coimbra, 4 de Junho de 1992 - Conferência internacional no Rio de Janeiro para defesa do ambiente físico. Do metafísico já ninguém cuida. E, do outro, mais valia que os delegados, em vez de discursos sujos, lavassem a hipocrisia nas águas ainda lustrais de Guanabara. O mundo está irremediavelmente perdido, porque é incorrigível a voracidade capitalista e a nossa obstinação consumista. Queremos, queremos, queremos. E os abnegados senhores do progresso fabricam, fabricam. Saturam, diligentes, os mercados do útil e do inútil. Atravancam o planeta das suas sedutoras mercadorias. Para tanto, esventram-no, derrubam-lhe as florestas, empestam-lhe os rios, os mares e os ares. Poucos dos que assistem ao colóquio estão ali de boa fé ou em nome dela. Quando a farsa terminar, nenhum petroleiro vai recolher ao estaleiro, nenhum alto forno deixará de arder, nenhum motor de rodar.
Contemporâneos passivos de uma civilização técnica e industrial, que nos serve o necessário poluído e o supérfluo esterilizado, já nem sequer nos indignamos de a ver acabar assim, pletórica e podre. Sornamente, vamos vegetando intoxicados, na esperança secreta de que o dilúvio não acontecerá na nossa vida, e, se acontecer, haverá sempre na Arca de salvação lugar para mais um.

(Miguel Torga, "DIÁRIO XVI")

terça-feira, 13 de janeiro de 2004

Porque

Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão
Porque os outros têm medo mas tu não.

Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.

(Sophia de Mello Breyner Andresen, "Mar Novo", 1958)

domingo, 11 de janeiro de 2004

Há "iludências" que "aparudem"

Recomendam-me a visita a um blogue cujo título me lembra imediatamente um infeliz pregão mouricida muito em voga há poucos anos atrás. Acto contínuo, imagino um "blogue-trincheira" de irredutíveis nortenhos a destilar ódios coevos contra a capital. Ainda assim, arrisco uma visita e a surpresa não podia ser maior.
Afinal trata-se, nas palavras dos próprios, de um "Observatório da política de libertinagem de Pedro Santana Lopes enquanto Presidente da C. M. de Lisboa"...
Seguindo a mesma linha editorial destes colegas, urge a criação do blogue "Porto A Arder".

Avanços

A assinatura pela Turquia do protocolo número 13 da Convenção Europeia de Direitos Humanos relativo à abolição da pena de morte "em todas as circunstâncias", mesmo por "actos cometidos em tempo de guerra ou de perigo iminente de guerra" configura um avanço civilizacional que, apesar de pecar por tardio e ser motivado por interesses de economia política, merece o aplauso de um país pioneiro no abolicionismo como foi Portugal.
A inqualificável desumanidade da pena de morte apenas pode encontrar eco em regimes fundados em concepções perversas do valor supremo da vida humana. Esta autêntica aberração civilizacional que coloca ao mesmo nível de vergonha realidades (aparentemente) tão distintas quanto a norte-americana, a chinesa ou a cubana, constitui ainda um crime chocante à luz do ordenamento jurídico de qualquer Estado realmente civilizado, por não permitir aos condenados o exercício efectivo do direito de defesa, incluindo o direito de recurso.
O respeito absoluto pela pessoa humana é o primeiro postulado do direito, ao qual também os Estados se encontram submetidos. Nos países onde tal não acontece, o direito constitui apenas um instrumento execrável de terror, utilizado na legitimação dos mais hediondos crimes de Estado.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2004

"Life imitating Blog"

A descoberta recente dos meus dotes premonitórios força-me a uma pausa deliberada na escrita de "posts".
No fundo, a questão resume-se a um profundo receio de que a realidade volte a imitar aquilo que escrevo.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2004

Portuense assume-se como concorrente directo da astróloga Maya!

O meu "post" de 31 de Dezembro queria ser irónico e acabou por ser tragicamente premonitório. Apenas errei na troca de um ex-PR por um PR em exercício e fui longe de mais no envolvimento de um ex-PM.
Algo me diz que, tal como na política, também na blogosfera não é vantajoso ter razão antes de tempo.
Para não irritar ainda mais o senhor Procurador Geral da República, afirmo solenemente que as minhas afirmações de 31 de Dezembro não configuram nenhuma violação do segredo de justiça. Trata-se apenas de um inocente "exercício divinatório sobre o segredo de justiça".
Fazemos orçamentos grátis, vamos a casa!