quarta-feira, 28 de julho de 2004

Serviço Público



Porque problemas extraordinários exigem respostas extraordinárias, o HHT presta aos leitores um serviço gratuito de consultoria ambiental, passando a informá-los do seguinte:

O D.L. n.º 310/2002, de 18 de Dezembro, regula o regime jurídico do licenciamento do exercício e da fiscalização de diversas actividades, com particular destaque para a realização de fogueiras e queimadas (Art. 39º e Art. 40º, respectivamente).
No âmbito do referido diploma, estas actividades "carecem de licenciamento municipal", sendo referida expressamente a proibição de "fazer queimadas que de algum modo possam originar danos em quaisquer culturas ou bens pertencentes a outrem". A câmara municipal "pode autorizar a realização de queimadas, mediante autorização prévia dos bombeiros da área, que determinarão as datas e os condicionamentos a observar na sua realização".

Mais um exemplo a confirmar o que todos sabemos. A legislação existe, está "bem feita", é inequívoca, apenas enfermando do mal de não ser cumprida.

P.S. - Confrontado profissionalmente com a necessidade de licenciar uma queimada junto da câmara municipal da área em questão, não pude acreditar no que ouvia quando, do outro lado do linha, me afirmavam a pés juntos ser esta uma competência do Governo Civil... Estudei melhor a questão e cheguei à conclusão que o diploma a que se referiam com tanta segurança havia sido revogado há dois anos (pelo acima referido D.L. 310/2002)!! 
Num país onde quem fiscaliza desconhece a legislação em vigor, serão de espantar incêndios como o da Arrábida?

O Santana do PS

Ainda a propósito da última entrevista de Sócrates ao Expresso, importa reconhecer que se confirmam as semelhanças entre Santana e Sócrates, principalmente no que diz respeito à carência flagrante de ideias políticas, à superficialidade das respostas, à pose meticulosamente estudada, aos tiques pequeno-burgueses e à vacuidade confrangedora do discurso (cuidadosamente salpicado, porém, por citações que primavam por ser descontextualizadas e/ou excessivas).
Não se augura nada de bom para o futuro próximo da política portuguesa, em que o Executivo está a cargo da dupla populi Portas/Santana e a Oposição será, ao que tudo indica, liderada por Sócrates. O triunfo dos media representa, cada vez mais, o triunfo da mediocridade.

 

terça-feira, 27 de julho de 2004

Elegia II - Da Arrábida



Alta Serra deserta, donde vejo
As águas do Oceano duma banda,
E doutra já salgadas as do Tejo
...
Daqui mais saüdoso o sol se parte;
Daqui muito mais claro, mais dourado,
Pelos montes, nascendo, se reparte.
...
Os olhos meus dali dependurados,
Pergunto ao mar, às plantas, aos penedos
Como, quando, por quem foram criados?

Respondem-me em segredo mil segredos,
Cujas primeiras letras vou cortando
Nos pés doutros mais verdes arvoredos.
...
Punha-me a ver correr as águas frias
Por cima de alvos seixos repartidas,
Que faziam tremer ervas sombrias.

As flores, que levava já colhidas,
Passando pelos vales enjeitava
Por outras doutra nova cor vestidas.
...
Cuidei que se esquecesse nesta Serra
A dura imiga minha natureza;
Mas donde quer que vou lá me faz guerra.
...
 
(Frei Agostinho da Cruz)

Repetindo o post de 27 de Setembro de 2003, no segundo dia de vida do HojeHaTripas

Incêndios

Flagrante contraste entre um país em chamas e outro a banhos...
Quando devíamos estar a aperfeiçoar os planos de resposta às cheias e inundações, estendemos sobre a terra queimada as várias possibilidades de combater e prevenir incêndios... Portugal continua igual a si próprio.
Ao contrário de anos anteriores, a trágica dimensão dos últimos fogos provocou um debate alargado na sociedade que, espera-se, irá frutificar em medidas efectivas para prevenir e combater este flagelo sazonal.
É inadmissível que os primeiros incêndios do Verão continuem a ser encarados com a mesma naturalidade da abertura da época de caça!



NOTA: Os 1000 hectares ardidos este ano (até ao momento) na Serra da Arrábida são absolutamente incompreensíveis se nos lembrarmos da enorme importância da flora autóctone ameaçada, dos múltiplos alertas do último Verão, dos montantes investidos em sistemas de televigilância e da pré-candidatura a património natural da Humanidade. A presença de um Secretário de Estado no local não tem, neste momento, qualquer significado que não seja o reconhecimento da flagrante incompetência do seu Executivo nesta matéria.

quinta-feira, 22 de julho de 2004

Nobre mas pouco!

Sem abrigo, sem conhecimentos na área, sem compatibilidades, sem vergonha!

 


 

terça-feira, 20 de julho de 2004

Equívocos checos

É uma sensação estranha, mas agradável, encontrar a Câmara do Porto com a sua imponência majestática a dominar a Wenceslau Square, bem no coração de Praga.
 
 

 
 
Um nativo afirma a pés juntos que o edifício alberga o Museu Nacional, mas continuo irredutível. É a Câmara do Porto!
 
 

sexta-feira, 16 de julho de 2004

Era assim em 1873...

Em Portugal não há uma oposição perfeitamente e fortemente constituída e assinalada, não há uma maioria consistente e robusta e para manter os apoios oscilantes o governo acode submissamente às exigências dos pequenos corrilhos, promete, desdiz, cede, transige, compra, troca, vende, intriga, e cai de fadiga, apupado e corrido.
 
(Ramalho Ortigão, "Farpas")

A propósito da morte da Memória Inventada

 
  
 
A Memória Inventada (MI) tornou-se Missão Impossível e acabou. Era, para mim, um blogue de consulta obrigatória e dói-me retirá-lo da coluna dos "Vizinhos". Ainda não o fiz e provavelmente não o farei.
As sucessivas mortes anunciadas que varrem a blogosfera por estes dias atiram-me por momentos a imaginação para uma cama de hospital, na unidade de cuidados intensivos.
 
Há um dia em que acordo, olho para a cama da direita e vejo-a vazia. Sei mais tarde por alguém que o meu colega de quarto se tinha cansado de viver durante a noite,  enquanto eu dormia. Uma semana depois acordo com a cama da esquerda vazia e depreendo que também este colega se havia cansado de viver... Puro engano, sei mais tarde que estava perfeitamente recuperado e que, por esse motivo, fizera as malas de manhã cedo e partira lá para fora, pelo seu próprio pé, para um mundo que já só conheço pelas janelas deste quarto da UCI.
 
Tudo isto para dizer que o importante não é sair da blogosfera; o importante é saber o que se vai fazer sem ela. 
  

quarta-feira, 14 de julho de 2004

Pablo Neruda nasceu há 100 anos e 2 dias



A poesia acompanhou os agonizantes e estancou as dores, conduziu às vitórias, acompanhou os solitários, foi queimante como o fogo, leve e fresca como a neve, teve mãos, dedos e punhos, teve brotos como a primavera, teve olhos como a cidade de Granada, foi mais veloz do que os projécteis dirigidos, foi mais forte do que as fortalezas: deitou raízes no coração do homem.

A fuga - Parte II

A decisão de Vitorino é a todos os níveis preocupante e lamentável.
No plano pessoal, revela uma surpreendente falta de dedicação à causa pública e um descabido tacticismo na gestão da sua carreira política.
No plano nacional, evidencia inequivocamente a baixa atractividade da política portuguesa para os seus filhos mais ilustres. Só os medíocres ficam, mas até esses o fazem apenas por falta de alternativas.
À semelhança de Durão, também Vitorino abandona o barco. A diferença é que Vitorino vai ainda mais longe e recusa-se a embarcar!

segunda-feira, 12 de julho de 2004

Fina ironia

Poucos minutos depois da primeira entrevista de Santana Lopes à SIC como indigitado primeiro-ministro, a RTP transmite o filme "Herói Acidental".
Não falta sentido de humor aos rapazes do serviço público!

quinta-feira, 8 de julho de 2004

Landscape from Saint-Rémy (1889)

Gogh, Vincent Willem Van
1853-1890



Porque a Carlsberg não é só uma fábrica de cerveja, podemos encontrar em Copenhaga, no Museu da empresa (Ny Carlsberg Glyptotek) esta admirável pintura (óleo sobre tela). Por cá, a UNICER e a CENTRAL DE CERVEJAS investem em Festivais de Verão e Queimas das Fitas...


"Van Gogh's letters document that Landscape from Saint-Rémy was painted during the second week of June, 1889. Around the 9th June he wrote to his brother, Théo van Gogh, "I am working on two landscapes (size 30 canvas), views taken in the hills, one is the country that I see from the window of my bedroom. In the foreground, a field of wheat ruined and hurled to the ground by a storm. A boundary wall and beyond the grey foliage of a few olive trees, some huts and the hills. Then at the top of the canvas a great white and grey cloud floating in the azure. It is a landscape of extreme simplicity in colouring too".

terça-feira, 6 de julho de 2004

Porque a Poesia nunca morre

Quando o meu corpo apodrecer e eu for morta
Continuará o jardim, o céu e o mar,
e como hoje igualmente hão-de bailar
As quatro estações à minha porta

Outros em Abril passarão no pomar
Em que eu tantas vezes passei,
Haverá longos poentes sobre o mar,
Outros amarão as coisas que eu amei.

Será o mesmo brilho a mesma festa,
Será o mesmo jardim à minha porta.
E os cabelos doirados da floresta,
Como se eu não estivesse morta.

("Dia do Mar", Sophia de Mello Breyner Andresen)