quinta-feira, 30 de novembro de 2006

Militares e polícias na rua...

Mas ainda há dúvidas sobre a justiça dos castigos aplicados aos militares que passearam/desfilaram/piquenicaram em protesto (mal) camuflado contra o Governo? Afinal estavam à espera de quê? De palmadinhas nas costas das chefias militares e do Ministro da Defesa? É incrível o ponto a que chegou o desrespeito pela autoridade do Estado!

Temos assistido, incrédulos, a militares nas ruas a desafiarem as ordens expressas das respectivas chefias e a polícias em locais idênticos a chamarem "aldrabão" ao primeiro-ministro e até a reclamarem o "direito à greve"...

Mas será que não percebem que sendo representantes da autoridade não se podem colocar a si próprios em tais situações, digamos, pouco edificantes? Hoje estão na rua a atacar o Estado e os seus governantes e amanhã estão na mesma rua a prender ou a autuar quem desrespeita a autoridade do Estado? Com que "cara"?

Nunca se assistiu a ditaduras que evoluíssem naturalmente para democracias, mas o contrário vem nos livros. E os primeiros sinais eram deste tipo.

sexta-feira, 17 de novembro de 2006

Santana Lopes (o livro e a entrevista)

É surpreendente (ou talvez não) a incapacidade de Pedro Santana Lopes para reconhecer os seus próprios erros.

Um ano depois de ter sido demitido de funções, ainda acredita na existência de uma conspiração objectiva para o derrubar, que envolvia figuras destacadas do seu partido, o então Presidente da República, todos os partidos da oposição, comentadores políticos, jornalistas, sindicalistas, domésticas, psicólogos, bombeiros, médicos, cantoneiros, taxistas, cozinheiros, economistas, torneiros mecânicos, engenheiros, costureiras, marceneiros, dactilógrafas, estivadores, advogados... Enfim, toda uma sociedade que - por maldade uns e por ignorância outros - não se soube mostrar grata por ser conduzida por tão brilhante e esclarecido líder e desencadeou a demissão.

Mas o seu livro aí está (segundo palavras do próprio PSL, ontem já ia na 2ª edição!) para deitar por terra todas as calúnias levantadas por esse bando de conspiradores ingratos que dão pelo nome de portugueses.

PSL espera que a história lhe faça justiça, nós também! Que os líderes do futuro aprendam com os erros do passado.

segunda-feira, 6 de novembro de 2006

Prós e Contras


Todos os partidos de poder, quando atravessam o deserto (leia-se: quando estão na oposição) perdem uma grande parte da sua capacidade de discernimento. O PSD veio agora a terreiro queixar-se da presença constante de ministros socialistas no programa Prós e Contras e do facto de não terem sido convidadas fuguras do PSD para esgrimir o contraditório.

Ora, se bem me lembro, as oposições costumavam queixar-se do autismo dos governos, que não apareciam a justificar as medidas impopulares, que não se sujeitavam a debates públicos (muito menos em directo e em canal aberto!), que não ouviam as partes contrárias, que isto e que aquilo. Pois bem, mudam-se os tempos, mudam-se as vontades... e o PSD vem agora lamentar-se da presença frequente de membros do governo na televisão!

Por muitos defeitos que o programa televisivo em apreço possa ter, não pode ser apodado de favorável ou laudatório dos ministros que o frequentaram, até porque não raras vezes estes têm sido confrontados com plateias maioritariamente hostis e nem sempre bem esclarecidas sobre os assuntos em discussão.

Quanto ao facto de o PSD nem sempre ter estado representado na parte contrária, grave seria se não houvesse parte contrária! Como nos tempos em que Cavaco Silva era primeiro-ministro e só aparecia na televisão para ler comunicados, sem direito a perguntas dos jornalistas e muito menos a contraditório por parte de membros da oposição. Haja memória...

terça-feira, 10 de outubro de 2006

Haja saúde!

O histórico buraco financeiro do Ministério da Saúde tende a ensandecer os ministros que o tutelam. A mais recente invenção de Correia de Campos para obter fundos evidencia um desespero absoluto. Não é que pretende criar uma taxa moderadora ("taxa de utilização" nas palavras do senhor ministro) para cirurgias e internamentos? Como se fosse humanamente possível moderar a doença que se contrai ou o acidente que se sofre!

Se a intenção for acabar com o Serviço Nacional de Saúde tal como o conhecemos e tal como está consagrado na Constituição da República Portuguesa, é necessário dar a cara e assumi-lo! A pretexto de obter "mais alguns tostões" (nas palavras do próprio ministro) é que não se podem realizar estes ataques encapotados a direitos constitucionalmente garantidos.

Termino com votos para o Senhor Ministro idênticos ao do personagem televisivo Frasier: "Good night and good mental health".

terça-feira, 12 de setembro de 2006

Ainda sobre a coabitação


Para quem temia a coabitação Cavaco / Sócrates, o HHT apresenta a prova que faltava. Afinal um deles é especialista na área do imobiliário...

quarta-feira, 9 de agosto de 2006

Corridas


O País congratula-se com mais uma vitória, brilhante, do corredor luso-nigeriano Francis Obikwelu. Apesar de ter nascido na Nigéria e viver actualmente em Espanha, admito que possamos sentir algum orgulho por este talentoso atleta ter escolhido a nossa bandeira para abraçar no final de cada triunfo desportivo além-fronteiras. É algo que não me choca minimamente.

Choca-me no entanto que todos os anos milhares de portugueses também talentosos - ainda que em áreas não desportivas como a química, a física, a microbiologia, a engenharia... - se vejam forçados a abraçar outras bandeiras que não a nossa. O esforço organizacional e financeiro para criar condições de trabalho a estes portugueses é muito grande mas tem de ser feito agora. É importante que os nossos licenciados trabalhem algum tempo lá fora, aprendendo com experiências profissionais e académicas eventualmente mais "evoluídas", mas igualmente importante é que se criem condições para o seu regresso em tempo útil.

segunda-feira, 31 de julho de 2006

Belgais/Bahia


Maria João Pires excedeu-se. Quero acreditar que os problemas de saúde recentes justificarão, pelo menos em parte, a falta de respeito pelas instituições culturais e educativas portuguesas e, em última análise, pelo próprio País. Portugal tem em MJP aquilo de que mais se pode orgulhar e é certo que nem sempre soube reconhecer o mérito que, lá fora, há muito era aclamado.

No entanto, a arrogância com que reclamava apoios financeiros para o seu projecto de Belgais, que é sem dúvida meritório, sempre me provocou estranheza e até alguma irritação. O mérito artístico não pode justificar caprichos autoritários que, não raras vezes, configuravam chantagens públicas com o Estado Português.


NOTA: Desejo o maior sucesso para o projecto Belgais II, desta vez na Bahia, e aproveito o mote para aconselhar a MJP maior moderação quando solicitar (exigir?) apoios ao Estado Brasileiro. É que nem todos os governantes têm a paciência dos nossos...

quinta-feira, 13 de julho de 2006

Uma Batalha ganha

A recuperação do Cinema Batalha representa uma vitória na guerra contra a desertificação da baixa portuense, ainda que muito haja ainda a fazer. O espaço está decorado com sobriedade e bom gosto, a música ambiente é escolhida criteriosamente e o serviço, não sendo de deslumbrar, também não compromete.

A vista oferecida pelo bar situado na cobertura do edifício é única.

quinta-feira, 6 de julho de 2006

Por Ruas e Vielas

As declarações irreprodutíveis de Fernando Ruas são reveladoras de uma forma de exercer o poder autárquico que nos parecem, hoje, passados que são 32 anos sobre o 25 de Abril, algo de inconcebível.
O apelo à lapidação dos inspectores do Ministério do Ambiente representa o grau zero da política.
Exige-se que o Ministério Público cumpra a sua função.

terça-feira, 4 de julho de 2006

Goleada

Sócrates já deu goleada neste Mundial 2006. A substituição de Freitas do Amaral e consequente mini-remodelação governamental foi, provavelmente, a menos contestada de sempre. A Oposição, à semelhança da generalidade da opinião pública, está com o corpo em Portugal mas com a cabeça na Alemanha. Ditosa pátria...

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2006

Escolas


A decisão de fechar um tão elevado número de escolas um pouco por todo o país é, no mínimo, discutível. O facto de estas escolas estarem maioritariamente localizadas em regiões do interior, assoladas pela desertificação, torna necessário um cuidado redobrado na apreciação de cada caso.

É certo que os recursos ministeriais são escassos e que é possível proporcionar melhores condições de ensino se esses recursos forem canalizados para estruturas centralizadas, todavia, essa centralização arrancará os poucos jovens e crianças que ainda restavam e, em muitos casos, os seus pais, também eles jovens e indispensáveis ao combate urgente contra o êxodo rural.

Sócrates diz que esta decisão não é por uma questão de dinheiro. Não é verdade. Trata-se de uma decisão motivada por preocupações financeiras, legítimas, mas que devem ser assumidas enquanto tal. De igual forma, devem ser estimados (e publicados!) os custos, também eles financeiros e de sustentabilidade territorial associados ao encerramento destas escolas. A política (gestão da coisa pública) só pode ser feita assim, com transparência.

terça-feira, 24 de janeiro de 2006

A ver

O último de Woody Allen: "Match Point". Para além da fotografia, da banda sonora, do argumento e de tudo o resto, Scarlett Johansson está de cortar a respiração.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2006

50 e picos

Cavaco foi eleito presidente da República à primeira volta. Atendendo à tradição portuguesa dos dois mandatos consecutivos, será um exercício terapêutico começar desde já a identificar quem estará em melhores condições para unir a esquerda daqui a dez anos. Para estas eleições também parecia fácil e foi o que se viu...

Uma ideia de Europa

A idiossincrasia da Europa está, para Steiner, nos seus cafés. Não nos bares assépticos da América do Norte, quase sempre vazios, melancólicos e com uma irritante música de fundo, mas nos cafés de Pessoa, barulhentos, medianamente limpos e povoados por clientes habituais que constituem amostras do universo da respectiva metrópole.

Outro ponto de ancoragem da identidade europeia é a distância pedestre entre as metrópoles. A Europa pode ser percorrida a pé e até as cordilheiras se encontram salpicadas por abrigos de montanha, da mesma forma que os nossos parques urbanos estão equipados com bancos de madeira para permitirem o justo descanso dos viajantes.

Também por estes motivos se torna evidente que a afirmação europeia ante a inevitabilidade da globalização só pode ser iniciada quando for reconhecido o timbre cultural que historicamente enformou esta civilização.

A actual geração de líderes europeus tem a suprema responsabilidade de transmitir aos vindouros um legado milenar que não pode ser comprometido por critérios de oportunidade comercial ou quaisquer outros de idêntico teor. A Europa não precisa de se afirmar em antítese ao Estado Unidos, mas também não o deve fazer em colagem excessiva e acrítica.

O facto de Barroso ter chegado onde chegou diz-nos quase tudo sobre a Europa que temos.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2006

Aceita-se Procurador-Geral da República

Oferece-se: remuneração compatível.
Exige-se: escolaridade obrigatória, nacionalidade portuguesa, boletim de vacinas em dia, domínio básico de MsExcel na óptica do utilizador.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2006

Crucifixos

Assiste-se hoje um pouco por todo o mundo ocidental ao progresso da investida laicista dos governos, com o intuito de satisfazer as aspirações - mais ou menos confessáveis - de alguns sectores da sociedade que, travestidos de republicanos e laicos, pretendem em boa verdade a instituição de estados anti-religiosos e não apenas laicos, como nos pretendem fazer crer.
A proibição dos crucifixos nas escolas é uma medida que, enquanto católico, não me choca. Tenho no entanto sérias dificuldades em perceber que haja portugueses que se sintam chocados com a representação de um “homem pregado numa cruz”.
É uma imagem “violenta” para as crianças, advogam os ditos laicos. Convém todavia relembrar a essa legião crescente de palerminhas acobertados por obscuras teses da pedopsiquiatria, que a “violência” de alguém que, há dois mil anos, terá morrido na cruz para salvar todos os homens não é de forma alguma comparável às decapitações, atropelamentos, bombardeamentos e outras idiotices de igual quilate que as inocentes criancinhas sorvem avidamente através dos videojogos, da TV e da Internet.
O ridículo atingiu-se já no Estados Unidos, com a proibição de referências oficiais ao Natal. As instituições devem apenas referir termos inócuos e consensuais com os “feriados”, as “festas” ou as “férias” do final do ano.
O preço a pagar por esta investida anti-religiosa será altíssimo. Aliás, a recente polémica em torno da referência à matriz cristã na futura Constituição Europeia foi já um claro alerta da debilidade cultural dos líderes europeus, que teimam em não querer perceber que a afirmação dos valores cristãos – inequivocamente fundadores da Europa tal como a conhecemos hoje – é a mais eficaz e duradoura política antiterrorista de que podem dispor.