domingo, 28 de novembro de 2010

Muros de Berlim


No Rio de Janeiro continuam a ser derrubados os novos muros de Berlim. A democracia não pode ter medo, não pode ser refém de narcotraficantes, não pode fazer concessões. É essa a obrigação de um governo do povo, pelo povo e para o povo.

Políticos portugueses não ouvem comendador Joe



As declarações de Joe Berardo à Lusa permitem, por um lado, perceber o estado de degradação moral atingido na África do Sul durante o apartheid e, por outro lado, admirar os resquícios de bom senso da classe política portuguesa.


Enquanto empresário, "nunca fui chamado para ser ouvido pelos políticos" e para discutir com eles o que deve ser feito pelo país, lamenta o comendador, recordando que quando viveu na África do Sul, era um dos empresários conselheiro do presidente daquele país.

Fight Club


O antigo ministro socialista Vera Jardim defendeu uma remodelação governamental, com vista à criação de uma “equipa de combate” para os tempos que se avizinham. Continua a clássica confusão entre mudar de políticas e mudar de políticos. Parece ser a mesma coisa, mas não é.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

O Negociador




Sempre que me falam dos brilhantes negociadores do nosso Orçamento do Estado (OE) lembro-me do filme “The Negotiator”. A sinopse é também ela curiosamente metafórica das negociações do OE:

Danny Roman é um especialista da polícia de Chicago em questões relacionadas com reféns. O seu papel é acalmar o sequestrador e levá-lo à rendição. Danny é um excelente profissional e, cada vez mais, é visto como um herói, até que um dia se torna vítima de uma conspiração em que tudo se inverte e o negociador passa a ser o sequestrador.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Escalada da violência entre EUA e Irão


A notícia que marca a semana é sem dúvida esta: EUA embargam pistácios iranianos.


“O presidente Barack Obama decretou um embargo aos pistácios iranianos como resposta às políticas nucleares do Irão.”

Os EUA replicam assim com oleaginosa violência à iminente ameaça iraniana de um holocausto nuclear. Este conceito invulgar de proporcionalidade é uma revisão da célebre e milenar lei de talião, agora redigida como “olho por olho, ogiva por pistácio”.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Confronto entre romenos e ciganos em escola de Braga




Ora aqui está uma manchete do Expresso que Sarkozy teria sérias dificuldades em entender, ainda que soubesse ler em português. Para o actual presidente francês, falar de “confrontos entre romenos e ciganos” é no mínimo tão redundante como falar de “confrontos entre pretos e negros”, “confrontos entre vagabundos e meliantes”, "confrontos entre pedintes e mendigos", etc.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Bora privatizar a RTP?



Pela primeira (e provavelmente última) vez o Hoje Há Tripas subscreve integralmente uma posta do 31 da Armada. Mais precisamente, esta. O assunto é o manifesto de Arons de Carvalho sobre a proposta do PSD para a privatização do serviço público de radiotelevisão.

Dada a profunda convergência de opiniões entre ambos os blogues, admitimos aos nossos leitores alguma preocupação com a sanidade mental de uma ou de outra parte. Mas sosseguem quanto aos restantes temas, pois a divergência continua a ser férrea.

O revisor monárquico



Paulo Teixeira Pinto, ex-presidente do BCP e líder da Causa Real - acedendo a um convite pessoal de D. Duarte Pio - deu a 2 de Fevereiro de 2008 uma esclarecedora entrevista ao Diário de Notícias, da qual destacamos a seguinte passagem:

"Isso [a forma republicana do regime] nunca devia ter ficado escrito na Constituição, eu fui a primeira pessoa a levantar a questão há uns anos e pretendo voltar a fazê-lo. Quando há uns anos falei com vários deputados apercebi-me da receptividade deles para alterar o limite da natureza republicana de regime para natureza democrática de regime. Hoje há muitos mais adeptos desta solução."


Pois foi precisamente este “monárquico desde que se conhece” que Pedro Passos Coelho (PPC) sapientemente escolheu em 2010 para liderar a comissão de revisão constitucional do PSD.

Não se arranjaria nenhum republicano para liderar este ambicioso projecto que basicamente consiste, segundo o próprio PPC, em "limpar termos, palavras e clarificar” o texto da Constituição? É que afinal de contas, trata-se da Constituição da República (!) Portuguesa...

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Prós e Contras – Casa Pia




O programa de ontem sobre o Processo Casa Pia foi mais um prego no caixão da credibilidade da Justiça portuguesa. Percebeu-se claramente que o programa já tinha emissão assegurada, fosse qual fosse o resultado da sentença. Os motes também já estavam decretados.


Cenário 1 (Se os arguidos fossem absolvidos):

“Casa Pia – O braço da Justiça é sempre curto para apanhar os ricos e poderosos?”


Cenário 2 (Se os arguidos fossem condenados):

“Casa Pia – A Justiça condenou os ricos e os poderosos para encobrir os ainda mais ricos e poderosos?”

Alguém tem coragem de chamar serviço público de televisão a este jornalismo rasteiro? Alguém ficou esclarecido com os depoimentos de trampa que se ouviram de parte a parte? O programa serviu para alguma coisa, para além de dar ainda mais tempo de antena ao arguido mais mediático? Será possível discutir na praça pública, durante horas, uma sentença judicial sem sequer conhecer o respectivo acórdão? Na Justiça também se deve dar protagonismo a treinadores de bancada? É este o País que queremos?


segunda-feira, 26 de julho de 2010

O inimputável





Mais uma intervenção que, mais do que sono, induz o vómito. Algumas pérolas:


«Ou o PSD de Lisboa é solidário connosco ou, então, passem bem, muito obrigado, porque o nosso partido é a Madeira»

«Eu não admito que (...) haja uns indivíduos, só porque estão em Lisboa, só porque estão lá metidos naquela política medíocre, se atrevam a negar aquilo que a Assembleia da Madeira determinou»

«É preciso vir para a rua, para as praças, fábricas e escolas exigirmos que Portugal tenha a mudança que todos os portugueses merecem»

«José Sócrates [é] o maior vendedor de ilusões da História da democracia portuguesa»

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Excitação maníaca ou depressão melancólica


Existe na sociedade portuguesa - e muito provavelmente noutras que conhecemos pior - uma propensão quase inata para a ciclotimia*. Conforme se escreveu aqui no HHT acerca de eventos como a Expo 98 e o Euro 2004, também durante o Mundial 2010 se foi revelando esta particularidade lusitana.

Até o português mais distraído percebia que, no final do primeiro jogo (Portugal: 0 - Costa do Marfim: 0) se respirava uma atmosfera quase depressiva e que, passados escassos dias, no final do segundo jogo (Portugal: 7 - Coreia do Norte: 0), a atmosfera tornara-se superlativamente eufórica. Ah! Nada melhor do que um massacre de comunas para nos massajar o ego e elevar as expectativas. Agora sim... o céu é o limite!

Quer dizer... pelo menos, até à próxima derrota. Que aconteceu logo com a arqui-rival Espanha! Foi então que regressamos da África do Sul acabrunhados, embalados pelo triste fado que nos atiça a depressão melancólica. Quando o último jogador abandonou o Aeroporto da Portela, lembramo-nos subitamente dos episódios infindáveis de uma crise que, apesar da nossa euforia momentânea, nunca deixou de existir (aumento do desemprego, portagens nas SCUT, aumento do IVA, ...).

Mesmo não dominando os meandros da psique de massas, suspeitamos que esta ciclotimia radica, mais ou menos directamente, num défice de auto-estima. Curiosamente, este défice só raramente é perceptível, por se encontrar oculto sob um espesso manto de hiperidentidade. Nas palavras do incontornável Eduardo Lourenço, esta hiperidentidade dos portugueses traduz-se numa “quase mórbida fixação na contemplação e no gozo da diferença que nos caracteriza - ou nós imaginamos tal - no contexto de outros povos, nações e culturas”. Nem mais.

Pois se até o Sérgio Godinho se farta de cantar que “ só neste país é que se diz 'só neste país' ”.


* Ciclotimia (s. f.) - Constituição psíquica caracterizada pela alternância da excitação maníaca e da depressão melancólica; nas suas formas atenuadas, pode passar quase despercebida.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Ilhas gregas à venda

A Grécia está disponível para vender ou alugar a longo prazo algumas das seis mil ilhas para poder pagar a dívida, noticia esta sexta-feira o diário britânico The Guardian.



Quando esta moda chegar cá, não tenhamos ilusões quanto à vendabilidade da Madeira... Enquanto o Dr. Alberto João Jardim estiver incluído no lote a leilão, nem a pagar nos livraremos de tão bela ilha.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

A propósito da vitória sobre a Coreia do Norte


7-0


Apesar do ruído ensurdecedor das vuvuzelas, no final do jogo conseguimos lembrar-nos de Eduardo Lourenço: “Portugal precisa dessa espécie de delírio manso, desse sonho acordado que, às vezes, se assemelha ao dos videntes e, outras, à pura inconsciência, para estar à altura de si mesmo”.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Alguém ficou surpreendido?

Interpretando este gráfico percebem-se melhor as declarações recentes de alguns banqueiros que (sem pingo de vergonha ou noção do ridículo) dizem agora com ar condoído e paternalista que temos todos de baixar o nível de vida (incluindo os ditos banqueiros, veja-se bem a desgraça).

Estes números provam que a espiral consumista que eles diligente e insistentemente promoveram durante as últimas três décadas chegou, sem glória e com algum estrondo, ao fim.

Agora, no rescaldo desta febre prolongada de irracionalidade colectiva, não será sem dor que famílias, empresas e bancos realinharão, num curtíssimo espaço de tempo, as suas necessidades com as suas reais possibilidades.

Quase todos sabiam que este dia ia chegar. Uns (bancos) enganavam, outros (clientes) pediam para serem enganados. Era um jogo com regras bem definidas e aceites por todos.

Sobre a ligeireza

Sem mais perguntas para o primeiro-ministro, o presidente da comissão de inquérito ao negócio PT/TVI pediu ligeireza ao relator João Semedo na elaboração do seu relatório.


Conhecendo o relator em questão, estamos certos de que a dita ligeireza abundará no relatório. Atentemos nos possíveis significados da palavra ligeireza:

s. f.

1. Rapidez de movimentos; agilidade.
2. Presteza.
3. Leviandade.


Vão por mim, apostem no terceiro.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

quarta-feira, 12 de maio de 2010

O que se ouve em Santa Comba



«Deveriam repor o busto de Salazar que já cá esteve e valorizar o que é de cá», referiu, apontando como exemplo «o caso dos campos de concentração na Áustria, que todos os anos são visitados por milhares de pessoas».


Grande comparação pá! Realmente não há nada como dar o devido valor às coisas da terra e aprender com esses finórios austríacos. Esses sim, sabem promover o que é bom e típico da sua região!


Ora, não havendo campo de concentração em Santa Comba - o que se lamenta pois seria coisa para chamar muito povo - lá terão de improvisar umas excursões em redor da geografia natal do tiranete.

E os distintos senhores do Turismo de Portugal? Andam a dormir? Não toparam aqui um PIN (projecto de potencial interesse nacional)? Francamente...

quinta-feira, 29 de abril de 2010

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Não te esqueças, Sancho.








"La libertad, Sancho, es uno de los más preciosos dones que a los hombres dieron los cielos; con ella no pueden igualarse los tesoros que encierra la tierra ni el mar encubre; por la libertad, así como por la honra, se puede y debe aventurar la vida.”

“El ingenioso caballero don Quijote de La Mancha”, Miguel de Cervantes.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Tardou mas chegou!

A prova de que JPP tem momentos, raros, de não-fanatismo:


No plano da democracia, já todos perceberam que eleições no contexto actual não mudam os dados da questão e, por isso, quer PS, quer o PSD actual traduzem essa consciência de adaptação ao pântano.


Nota: adivinha-se da transcrição supra o enorme carinho nutrido por JPP relativamente àquilo que ele designa por "PSD actual".

segunda-feira, 29 de março de 2010

Não há povoadores


Já aqui escrevemos sobre os custos indirectos do fecho de maternidades, centros de saúde, escolas do ensino básico e outros equipamentos públicos em zonas fustigadas pela desertificação humana.



Para além de tristeza, esta notícia não nos causa portanto qualquer surpresa. Tão importante como enviar novos povoadores para o interior abandonado, será impedir que os escassos habitantes que aí resistem decidam também eles rumar às cidades, onde não fecham escolas, nem maternidades, nem centros de saúde.


Pois é, manter um País povoado de forma equilibrada custa muito dinheiro. Mas a desertificação também!

terça-feira, 23 de março de 2010

Os 4 Mosqueteiros



O debate de ontem entre os quatro candidatos à liderança do PSD foi ruidoso mas, como se esperava, pouco esclarecedor.



Confirmou-se a suspeita de que são todos fraquinhos (por inexperiência uns e por incompetência outros) e manifestamente incapazes de assumir responsabilidades governativas nos tempos mais próximos.


(Nota: Em termos de incompetência absoluta, é de elementar justiça reconhecer que Castanheira Barros se destaca dos restantes. A sua candidatura chega a ser embaraçosa até para quem não é militante nem simpatizante do PSD.)


O País e o PSD precisavam, agora como nunca, de um líder de nível superior, que combatesse lealmente e sem tréguas o actual Governo e que representasse uma alternativa séria e capaz de governação. Pelo que se viu e ouviu ontem, nada disso surgirá das próximas eleições internas.


Os únicos vencedores do debate foram portanto o PS e o CDS, que continuarão, e não por mérito próprio, a subir nas sondagens...

quinta-feira, 18 de março de 2010

Tolerância de ponto



Há tradições e tradições. Esta já não estará desadequada? Convém não esquecer que, durante largos séculos, a escravatura também foi tradicional. Até ao dia em que deixou de o ser.

No rescaldo da apresentação das medidas de austeridade do PEC, fará algum sentido tomar decisões destas? Será que, para termos mais estabilidade e crescimento, o contributo de  uma jornada de trabalho de todo o sector público português não é minimamente relevante?

Aceita-se e aplaude-se o argumento governamental de que a criação do novo escalão máximo de IRS tem um significado mais simbólico do que financeiro. Mas então... que dizer do simbolismo desta tolerância de ponto, decretada em plena crise?

sexta-feira, 5 de março de 2010

Comissão Europeia promete luta contra disparidades salariais

Por breves momentos, pensámos que esta notícia tratava do combate à disparidade salarial que subsiste entre trabalhadores portugueses e outros trabalhadores europeus.


Convenhamos que, face à abissal disparidade de produtividade que também existe entre Portugal e outros países europeus, o combate a essa desigualdade salarial teria tanto de popular como de ruinoso para a economia portuguesa.

Um dos males de vivermos nestes tempos conturbados é passarmos a acreditar que já tudo é possível. O disparate já não causa o espanto que causava.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Ainda se lembram?

memória é uma preciosa faculdade do ser humano (e de outros seres ditos irracionais). Por um motivo ou por outro, permite-nos manter presentes inúmeras caras e momentos. Reparei que aqui também gostam de cultivar a nossa memória colectiva. Bem hajam por isso.





 

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Ele ainda não foi processado pelo Sócrates?

Enquanto espera impacientemente pelo seu Watergate à portuguesa, Mário Crespo cumpre com diligência a sua vocação de comunicador nato. Desta vez levou o conceito de "infotainment" até à Assembleia da República.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Entrevista

Talvez excessivamente optimista, mas muito interessante esta entrevista de José Sócrates ao Libération, que encontrei referida aqui. Vale a pena destacar:


"Il faut que l’on m’explique en quoi notre situation est différente de celles des autres pays et en quoi elle est plus préoccupante."

"Si notre déficit a plongé, c’est parce que nous avons fait un effort budgétaire pour aider notre économie ébranlée par la crise mondiale. Il s’agit donc de dépenses justifiées."
"L’intervention de l’Etat a d’ailleurs fonctionné: le Portugal, comme la France, a été l’un des premiers pays à sortir de la récession technique, au 2e trimestre 2009, et avec l’une des plus fortes croissances de la zone euro. J’ai une vision instrumentale du déficit: il faut le creuser quand l’économie en a besoin."

"D’ailleurs, même l’opposition de droite a décidé de s’abstenir sur le vote du budget, ce qui est un geste de grandeur politique de sa part."

"Il est extraordinaire que les agences critiquent les gouvernements pour avoir dépensé l’argent qui a permis de sauver le système financier!"

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Só agora é que reparou?

O Prof. Silva Lopes acordou esta semana para a realidade da política portuguesa. Podem ler aqui o resultado.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

"Linhas há muitas, seu palerma"



Relativamente ao “Caso Crespo” ocorrem-nos vários comentários, mas nem todos são publicáveis. É no entanto curioso notar o teor cocainómano que foi adoptado para intitular uma crónica ("O Fim da Linha"), cujo conteúdo é sobejamente delirante.  


sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

É bruto!



Sob o título “Os tempos de Sócrates estão a acabar, mas a herança é pesada”, o nunca-menos-que-brilhante-filósofo Pacheco Pereira destila pela enésima vez um ódio desusado contra a governação socialista. O estilo literário destas farpas pretende ser o mesmo de Eça e de Ramalho mas, como o génio não é suficiente para tanto, o resultado é previsivelmente pífio. Transcrevemos algumas passagens mais verrinosas e alertamos os pacientes leitores para o neologismo “entourance” que, salvo melhor informação, será da autoria do próprio Pacheco Pereira.



Os tempos de Sócrates estão a acabar, esgotados, encurralados, perdidos na nuvem de arrogância do "animal feroz", na amoralidade da sua política, na mentira total em que transformou toda a actividade governativa, na impotência face a uma crise nacional que agravou e uma crise internacional que ignorou, adiou e, por isso mesmo, também agravou. (...) E quanto mais Sócrates se enterra na negação do real, mais este lhe bate à porta. Até o próprio parece começar a aperceber-se disto, e a responder a este fim dos tempos numa fuga em frente obstinada, porque é da sua natureza, mas confusa e caótica. (...) Já toda a gente percebeu tudo isto menos os intelectuais orgânicos "socráticos", um conjunto modernaço de gente que tem o coração no Bloco de Esquerda, mas a carteira no PS, ou melhor, no gabinete do primeiro-ministro. Gente que pouco preza a liberdade mas que tem acima de tudo um enorme fascínio pelo poder como ele se exerce nos dias de hoje, entre o culto da imagem, o pedantismo das causas "fracturantes", o vanguardismo social, o "diabo que veste Prada" ou Armani, e o "departamento dos truques sujos" à Richard Nixon, tudo adaptado à mediania provinciana da capital. A ascensão ao poder de uma geração de diletantes embevecidos com os gadgets, pensando em soundbites, muito ignorantes e completamente amorais, que se promovem uns aos outros e geram uma política de terra queimada à sua volta, é a entourance que o "socratismo" criou e vai deixar órfã. (...) Exemplos sobre exemplos desta degenerescência aparecem todos os dias. Já não são bonitos de se ver os tempos da crise do "socratismo", mais ainda vão ser piores os tempos da queda do "socratismo". Claro que isto é tudo a superfície efémera. O fundo é a perda de competitividade da economia portuguesa, o défice descontrolado, a dívida que ninguém sabe como vai ser paga, o desemprego e o empobrecimento dos portugueses, o país cada vez mais longe da Europa. Mas a superfície traduz um ambiente, uma ecologia, um "estado" de podridão. Na verdade, como a sabedoria popular dos provérbios afirma, o peixe apodrece pela cabeça.



Nota: Entende-se perfeitamente a argumentação de JPP. É um facto histórico que, quando o PSD esteve no Governo, a coisa pública foi exemplarmente gerida por gente séria, capaz e dedicada (aliás, como ficou comprovado com a distinção atribuída recentemente ao ex-PM Pedro Santana Lopes, pelos altos serviços prestados à Nação). Esperemos então que o PSD regresse rapidamente e em força ao poder, para endireitar o que ainda restar do País.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Mais uma Campanha Alegre



Já muita água correu debaixo das pontes, desde que aqui se escreveu sobre o “charme do último candidato romântico” (28.09.2005).


A concretizar-se, o apoio do PS à segunda candidatura presidencial de Manuel Alegre será um erro político. A forma como Alegre exerceu o seu último mandato de deputado, com frequentes manifestações públicas de discordância relativamente à estratégia da governação socialista, foi penalizadora para o PS e não contribuiu para a estabilidade política de que o País necessitava para empreender ambiciosas reformas.


Em momentos críticos, Manuel Alegre representou a oposição mais obstinada ao cumprimento do mandato que os portugueses, bem ou mal, confiaram maioritariamente a José Sócrates. A avaliação dos professores, o código do trabalho, a co-incineração e tantos outros temas, foram objecto de conflitos internos que, não raras vezes, resultaram na dissidência de votos entre a maioria parlamentar socialista. A “ala alegrista” constituiu uma constante preocupação nos momentos de contagem de votos. Estariam a favor ou contra as propostas do seu próprio partido?


Importa ainda perceber que o milhão de votos que recebeu nas presidenciais de 2006, mercê de circunstâncias anormalmente favoráveis, não lhe pertence por inteiro. Circunstancialmente, surgiu como o candidato da esquerda, muito por falta de adversário credível, em boa medida devido à absoluta falta de oportunidade da candidatura soarista.


É muito provável que os melhores candidatos socialistas (Guterres, Gama e, quem sabe, Sócrates) se estejam a guardar para as presidenciais de 2016. Haverá no entanto outros candidatos disponíveis para concorrer em 2011 e que, no actual cenário, garantiriam no mínimo uma disputa renhida com Cavaco Silva.


Uma decisão incompreensível.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo



Existem dois textos do João Carlos Espada que julgo colocarem a questão do casamento entre pessoas do mesmo sexo nos seus devidos termos, isto é, sem excessivas colagens políticas ou religiosas. Um deles foi publicado aqui e o outro ali.