segunda-feira, 26 de julho de 2010

O inimputável





Mais uma intervenção que, mais do que sono, induz o vómito. Algumas pérolas:


«Ou o PSD de Lisboa é solidário connosco ou, então, passem bem, muito obrigado, porque o nosso partido é a Madeira»

«Eu não admito que (...) haja uns indivíduos, só porque estão em Lisboa, só porque estão lá metidos naquela política medíocre, se atrevam a negar aquilo que a Assembleia da Madeira determinou»

«É preciso vir para a rua, para as praças, fábricas e escolas exigirmos que Portugal tenha a mudança que todos os portugueses merecem»

«José Sócrates [é] o maior vendedor de ilusões da História da democracia portuguesa»

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Excitação maníaca ou depressão melancólica


Existe na sociedade portuguesa - e muito provavelmente noutras que conhecemos pior - uma propensão quase inata para a ciclotimia*. Conforme se escreveu aqui no HHT acerca de eventos como a Expo 98 e o Euro 2004, também durante o Mundial 2010 se foi revelando esta particularidade lusitana.

Até o português mais distraído percebia que, no final do primeiro jogo (Portugal: 0 - Costa do Marfim: 0) se respirava uma atmosfera quase depressiva e que, passados escassos dias, no final do segundo jogo (Portugal: 7 - Coreia do Norte: 0), a atmosfera tornara-se superlativamente eufórica. Ah! Nada melhor do que um massacre de comunas para nos massajar o ego e elevar as expectativas. Agora sim... o céu é o limite!

Quer dizer... pelo menos, até à próxima derrota. Que aconteceu logo com a arqui-rival Espanha! Foi então que regressamos da África do Sul acabrunhados, embalados pelo triste fado que nos atiça a depressão melancólica. Quando o último jogador abandonou o Aeroporto da Portela, lembramo-nos subitamente dos episódios infindáveis de uma crise que, apesar da nossa euforia momentânea, nunca deixou de existir (aumento do desemprego, portagens nas SCUT, aumento do IVA, ...).

Mesmo não dominando os meandros da psique de massas, suspeitamos que esta ciclotimia radica, mais ou menos directamente, num défice de auto-estima. Curiosamente, este défice só raramente é perceptível, por se encontrar oculto sob um espesso manto de hiperidentidade. Nas palavras do incontornável Eduardo Lourenço, esta hiperidentidade dos portugueses traduz-se numa “quase mórbida fixação na contemplação e no gozo da diferença que nos caracteriza - ou nós imaginamos tal - no contexto de outros povos, nações e culturas”. Nem mais.

Pois se até o Sérgio Godinho se farta de cantar que “ só neste país é que se diz 'só neste país' ”.


* Ciclotimia (s. f.) - Constituição psíquica caracterizada pela alternância da excitação maníaca e da depressão melancólica; nas suas formas atenuadas, pode passar quase despercebida.