sábado, 9 de julho de 2011

São os loucos de Lisboa


Na política, como no futebol, o que hoje é verdade amanhã é mentira. E já ninguém se surpreende com tamanha indignidade.

A nova legislatura, que agora inicia o seu caminho alicerçada sobre uma confortável maioria parlamentar de direita, cometeu já dois graves atentados à verdade. Denunciamos aqui essas flagrantes contradições discursivas.

1. As agências de notação financeira (vulgo "rating") não passam de um bando de malfeitores a soldo de obscuros interesses americanos, visando a destruição metódica e progressiva da moeda única europeia.

Haja memória, haja vergonha. Quem agora clama indignado contra estas agências fez, durante meses a fio, discursos inflamados de ataque à governação socialista, em que o principal barómetro usado era, precisamente, a queda sucessiva da notação financeira da dívida da república. Simplificando, até 5 de Junho as agências eram as entidades celestiais que nos avisavam dos delírios de quem nos governava. Eram, numa linguagem evangélica, "o Caminho, a Verdade e a Vida". Após 5 de Junho, a Direita assume os comandos da Nação e diz agora dessas agências o que Maomé não disse do toucinho.

("São os loucos de Lisboa / Que nos fazem duvidar / Que a Terra gira ao contrário / E os rios nascem no mar")





2. O imposto extraordinário lançado sobre o subsídio de Natal é inevitável e consitui uma decisão política de grande visão. Demonstra a capacidade de antecipação e a sagacidade do novo excutivo.

Bravo. Os visionários que agora pretendem criar esta almofada orçamental à custa de um imposto extraordinário são os mesmíssimos que, até ao dia 5 de Junho, consideravam inaceitável que o anterior executivo teimasse em equilibrar as contas públicas à custa dos sucessivos aumentos da receita fiscal e que não fizesse acompanhar essas medidas de uma redução efectiva da despesa pública. Pois bem, a primeira medida governativa do novo executivo foi... aumentar a carga fiscal... sem ter reduzido a despesa pública.

("Bem prega Frei Tomás, faz o que ele diz, não faças o que ele faz.")