quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Venha o próximo D. Sebastião de pacotilha!


Quanto melhor é quando há bruma.
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!


Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol que peca
Só quando, em vez de criar, seca.


E mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças,
Nem consta que tivesse biblioteca...


Fernando Pessoa



sábado, 8 de setembro de 2012

E agora para algo completamente diferente!

Passos Coelho anunciou mais austeridade, com aquele ar condoído do pai que açoita o filho pela décima vez, convencido de que lhe está a dar mais uma dolorosa mas inestimável lição de vida.

Pouco interessado em escalpelizar mais um comunicado ao País, que o País de bom grado dispensaria, o HHT permite-se contudo deixar lavradas algumas perplexidades:

  1. Agendar um comunicado ao País para os instantes que precedem um jogo da selecção nacional de futebol não é uma coincidência, é uma tentativa pueril de contenção de danos políticos.
  2. O CDS-PP, pela voz do seu deputado Nuno Magalhães, afirmou aliviado que não foi anunciado um aumento de impostos, o que seria inaceitável para o seu partido. No entanto, esbulhar os trabalhadores em 7% na rubrica das contribuições para a Segurança Social já é aceitável. A importância da semântica no jogo político nunca pode ser menosprezada.
  3. A falta de equidade a que aludiu o último acórdão do Tribunal Constitucional não nos parece que esteja afastada com a solução agora proposta de manter dois cortes de salários no sector público um corte de salários no sector privado. O HHT aposta em novas chumbadas desde o Palácio Ratton.
  4. A simultaneidade da queda da TSU para os empregadores e do aumento das contribuições dos trabalhadores para a Segurança Social significa, aritmeticamente, que os trabalhadores irão ajudar a financiar as empresas. Original.
  5. Continua o silêncio sepulcral sobre o agravamento da taxação dos rendimentos de capital. Registamos.      
Esta enorme pilha de dejectos argumentativos constitui um pasto interminável para quem se queira dedicar à hermenêutica da pulhice política. Por motivos de elementar higiene mental, o HHT não irá dedicar mais linhas a esta temática.




quarta-feira, 5 de setembro de 2012

domingo, 8 de julho de 2012

Miguel Relvas - III



Um mês antes das últimas eleições legislativas, a Notícias Magazine traçou um curioso retrato político de Miguel Relvas que nos ajuda hoje a compreender a abulia de Passos Coelho relativamente à acumulação de "trapalhadas" por parte do seu braço direito.

“Quando agora põe os pés em cima da secretária e liga a aparelhagem para ouvir a banda sonora do filme Mamma Mia, Relvas sabe que a sesta será breve, porque o seu amigo há-de entrar pela porta do gabinete na sede do PSD a qualquer instante, ou o telemóvel tocará por um qualquer motivo. Não se importa. Ligou o seu sistema nervoso central a um único objectivo: construir o próximo primeiro-ministro. «O Pedro sabe que estou a fazer tudo para que ele seja primeiro-ministro e também sabe que devo ser a única pessoa no PSD que não quer o lugar dele. A minha carreira política terá o prazo de validade da dele.”
Se não afastar rapidamente este "activo tóxico" do seu executivo, será a carreira política de Pedro Passos Coelho que terá o prazo de validade da de Miguel Relvas. "Ça va sans dire"...

Miguel Relvas - II





O facto de Miguel Relvas ter encontrado numa instituição designada "Lusófona" o caminho mais curto para aceder a algo que não lhe pertencia por direito, encerra uma involuntária coerência semântica que importa assinalar.

De facto, é património imaterial da "lusofonia" esta velha tradição do compadrio, do tráfico de influências e até, em menor escala, da corrupção. Sobejamente documentada nas nações que tiveram a infelicidade de serem colonizadas por lusitanos, esta triste maneira de ser e de estar é socialmente valorizada e transmite-se, diligentemente, de geração em geração. 

A língua que une portugueses, brasileiros, goeses, cabo verdianos, angolanos, moçambicanos, são tomenses, guineenses, timorenses e macaenses, é a língua que serve para perpetuar os discursos erráticos de políticos que subitamente se esquecem dos nomes dos professores, da data de conclusão do curso, do número de cadeiras efectuadas, das equivalências atribuídas...

É tambem em linguagem "lusófona" que rejeitam com ar sério as acusações de pressão ilegítima sobre jornalistas, que desmentem com ar condoído a interferência de interesses privados na política de privatização, que negam com ar enfadado as promiscuidades e as trocas de favores com  agentes secretos e que repudiam com ar ingénuo as influências das sociedades secretas nas mais altas esferas do Estado.

A "lusofonia" fica-lhes tão bem!

Miguel Relvas - I

A propósito do plenipotenciário Miguel Relvas, resgatamos novamente para este blogue excertos da obra intemporal de Maquiavel.  

A escolha dos ministros por parte de um príncipe não é coisa de pouca importância: os ministros serão bons ou maus, de acordo com a prudência que o príncipe demonstrar. A primeira impressão que se tem de um governante e da sua inteligência, é dada pelos homens que o cercam. Quando estes são eficientes e fiéis, pode-se sempre considerar o príncipe sábio, pois foi capaz de reconhecer a capacidade e manter fidelidade. Mas quando a situação é oposta, pode-se sempre dele fazer mau juízo, porque seu primeiro erro terá sido cometido ao escolher os assessores”. (Nicolau Maquiavel, "O Príncipe")







terça-feira, 1 de maio de 2012

Feriado até quando?


A esperteza saloia de Alexandre Soares dos Santos mete nojo aos cães da rua.

Manter as suas mercearias abertas neste dia feriado é uma decisão legítima, ainda que revele algum mau gosto. Anunciar um desconto absolutamente excepcional de 50% apenas no Dia do Trabalhador, é uma deslealdade para os seus concorrentes e revela, sem margem para dúvidas, uma agenda ideológica de combate a este feriado.



quinta-feira, 12 de abril de 2012

Portugal visto da Grécia

Vale a pena ler isto num jornal grego para perceber como somos vistos pelos nossos colegas de infortúnio. O artigo compila algumas opiniões de portugueses mais ou menos mediáticos sobre a crise económica, apontando causas e consequências sobejamente conhecidas. Nada de surpreendente quanto à essência, portanto.

Mas há alguns pormenores na crónica que, apesar do soturnismo desta temática, não podem deixar de nos dispor bem.

Vejamos que João Cantiga Esteves é apresentado como "a round-faced and amiable-looking professor at Lisbon’s Superior Institute of Economics and Management" e que o jornal de referência para os dados estatísticos apresentados sobre desemprego é nem mais nem menos do que o inatacável e cientificamente infalível "local daily Correio da Manhã"...

Ou seja, os gregos conseguem a proeza de falar da crise e fazer humor no mesmo artigo.

Tudo está bem quando acaba bem!

Os 11 arguidos do caso Portucale, ligado ao abate ilegal de sobreiros para a construção de um empreendimento imobiliário e turístico em Benavente, foram todos absolvidos.

domingo, 1 de abril de 2012

Rui & Rui, Lda.

Quem esteve na Biblioteca Almeida Garrett na passada sexta-feira percebeu que, se dependesse de Rui Rio, seria outro Rui, o Moreira, a suceder-lhe na presidência da Câmara Municipal do Porto.

É curioso assistir a esta aproximação entre os dois Ruis que, ainda há poucos anos, se combatiam ferozmente nas páginas do Público. Aqui está a prova de que Luís Filipe Menezes também consegue ser um agente político unificador.

sábado, 9 de julho de 2011

São os loucos de Lisboa


Na política, como no futebol, o que hoje é verdade amanhã é mentira. E já ninguém se surpreende com tamanha indignidade.

A nova legislatura, que agora inicia o seu caminho alicerçada sobre uma confortável maioria parlamentar de direita, cometeu já dois graves atentados à verdade. Denunciamos aqui essas flagrantes contradições discursivas.

1. As agências de notação financeira (vulgo "rating") não passam de um bando de malfeitores a soldo de obscuros interesses americanos, visando a destruição metódica e progressiva da moeda única europeia.

Haja memória, haja vergonha. Quem agora clama indignado contra estas agências fez, durante meses a fio, discursos inflamados de ataque à governação socialista, em que o principal barómetro usado era, precisamente, a queda sucessiva da notação financeira da dívida da república. Simplificando, até 5 de Junho as agências eram as entidades celestiais que nos avisavam dos delírios de quem nos governava. Eram, numa linguagem evangélica, "o Caminho, a Verdade e a Vida". Após 5 de Junho, a Direita assume os comandos da Nação e diz agora dessas agências o que Maomé não disse do toucinho.

("São os loucos de Lisboa / Que nos fazem duvidar / Que a Terra gira ao contrário / E os rios nascem no mar")





2. O imposto extraordinário lançado sobre o subsídio de Natal é inevitável e consitui uma decisão política de grande visão. Demonstra a capacidade de antecipação e a sagacidade do novo excutivo.

Bravo. Os visionários que agora pretendem criar esta almofada orçamental à custa de um imposto extraordinário são os mesmíssimos que, até ao dia 5 de Junho, consideravam inaceitável que o anterior executivo teimasse em equilibrar as contas públicas à custa dos sucessivos aumentos da receita fiscal e que não fizesse acompanhar essas medidas de uma redução efectiva da despesa pública. Pois bem, a primeira medida governativa do novo executivo foi... aumentar a carga fiscal... sem ter reduzido a despesa pública.

("Bem prega Frei Tomás, faz o que ele diz, não faças o que ele faz.")

quarta-feira, 20 de abril de 2011

"Em todo o caso fica o mais perto possível da coxia"

Um poema que retrata um País. 





Não te candidates, nem te demitas. Assiste.
Mas não penses que vais rir impunemente a sessão inteira.
Em todo o caso fica o mais perto possível da coxia.


Alexandre O’Neill, in "A saca de orelhas" (1979)

domingo, 27 de março de 2011

'A luta' é uma nova marca, pá!

Em 2011, até os símbolos revolucionários são marcas e estudos de caso. 

Haverá um melhor sinal dos tempos contraditórios em que vivemos?

Gerações...

A parva discussão geracional que se tem instalado na sociedade portuguesa não merece muitas linhas de prosa, mas há um argumento dos actuais pós-adolescentes que entendemos não ter ainda sido contestado com a necessária clareza.

Quando a autodenominada geração à rasca reclama para si o estatuto de juventude mais sacrificada, será que ignora os sacrifícios brutais impostos à geração dos seus próprios pais? Ou menospreza-os conscientemente?



Ei-los embarcados aos magotes, para combater em nome de um regime que os empurrava para a morte no auge da juventude. Tudo em nome de uma causa dita maior, que apenas fazia sentido para quem "combatia" a partir dos gabinetes do Terreiro do Paço.

domingo, 28 de novembro de 2010

Muros de Berlim


No Rio de Janeiro continuam a ser derrubados os novos muros de Berlim. A democracia não pode ter medo, não pode ser refém de narcotraficantes, não pode fazer concessões. É essa a obrigação de um governo do povo, pelo povo e para o povo.

Políticos portugueses não ouvem comendador Joe



As declarações de Joe Berardo à Lusa permitem, por um lado, perceber o estado de degradação moral atingido na África do Sul durante o apartheid e, por outro lado, admirar os resquícios de bom senso da classe política portuguesa.


Enquanto empresário, "nunca fui chamado para ser ouvido pelos políticos" e para discutir com eles o que deve ser feito pelo país, lamenta o comendador, recordando que quando viveu na África do Sul, era um dos empresários conselheiro do presidente daquele país.

Fight Club


O antigo ministro socialista Vera Jardim defendeu uma remodelação governamental, com vista à criação de uma “equipa de combate” para os tempos que se avizinham. Continua a clássica confusão entre mudar de políticas e mudar de políticos. Parece ser a mesma coisa, mas não é.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

O Negociador




Sempre que me falam dos brilhantes negociadores do nosso Orçamento do Estado (OE) lembro-me do filme “The Negotiator”. A sinopse é também ela curiosamente metafórica das negociações do OE:

Danny Roman é um especialista da polícia de Chicago em questões relacionadas com reféns. O seu papel é acalmar o sequestrador e levá-lo à rendição. Danny é um excelente profissional e, cada vez mais, é visto como um herói, até que um dia se torna vítima de uma conspiração em que tudo se inverte e o negociador passa a ser o sequestrador.