O Porto é só uma certa maneira de me refugiar na tarde,
forrar-me de silêncio
e procurar trazer à tona algumas palavras
sem outro fito
que não seja o de opor ao corpo espesso destes muros
a insurreição do olhar.
O Porto é só esta atenção empenhada
em escutar os passos dos velhos
que a certas horas atravessam a rua
para passarem os dias no café em frente
os olhos vazios,
as lágrimas das crianças de S. Vítor
correndo nos sulcos da sua melancolia.
O Porto é só a pequena praça
onde há tantos anos aprendo metodicamente
a ser árvore
procurando assim parecer-me com a terra obscura
do meu próprio rosto.
Desentendido de ansiedade
olho na palma da mão
os resíduos da juventude
e dessa paixão sem regra
deixarei aqui uma pétala
pois aqui por ser tão branca.
(Eugénio de Andrade)
Este era o poema que faltava num blogue com paternidade Portuense. Agora que está definido o espaço afectivo que enforma estas linhas, parto para a ceia de Natal com a certeza de já ter aberto um presente.
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