A idiossincrasia da Europa está, para Steiner, nos seus cafés. Não nos bares assépticos da América do Norte, quase sempre vazios, melancólicos e com uma irritante música de fundo, mas nos cafés de Pessoa, barulhentos, medianamente limpos e povoados por clientes habituais que constituem amostras do universo da respectiva metrópole.
Outro ponto de ancoragem da identidade europeia é a distância pedestre entre as metrópoles. A Europa pode ser percorrida a pé e até as cordilheiras se encontram salpicadas por abrigos de montanha, da mesma forma que os nossos parques urbanos estão equipados com bancos de madeira para permitirem o justo descanso dos viajantes.
Também por estes motivos se torna evidente que a afirmação europeia ante a inevitabilidade da globalização só pode ser iniciada quando for reconhecido o timbre cultural que historicamente enformou esta civilização.
A actual geração de líderes europeus tem a suprema responsabilidade de transmitir aos vindouros um legado milenar que não pode ser comprometido por critérios de oportunidade comercial ou quaisquer outros de idêntico teor. A Europa não precisa de se afirmar em antítese ao Estado Unidos, mas também não o deve fazer em colagem excessiva e acrítica.
O facto de Barroso ter chegado onde chegou diz-nos quase tudo sobre a Europa que temos.
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