sexta-feira, 3 de outubro de 2003

E as vítimas da "Guerra" de Joanesburgo?

Não haja equívocos, a Cimeira da Terra em Joanesburgo foi um fracasso global e provocou um número incomensuravelmente maior de vítimas do que a mais recente sequela da Guerra do Golfo. Em Joanesburgo as expectativas iniciais eram propositadamente baixíssimas, com vista à divulgação de uma imagem de sucesso relativo no final da Cimeira. A ardilosa estratégia não apagou, contudo, as sentenças de morte que ali foram passadas a 13 milhões de seres humanos do Lesotho, Malawi, Moçambique, Swazilândia, Zâmbia e Zimbabwe, que lutam diariamente contra a fome e que não puderam encontrar em Joanesburgo um aliado no seu combate pela sobrevivência. O manto da ignomínia cobriu de novo as mais altas figuras mundiais e foi dado o mote para nova investida anti-globalização. Já não há operações cosméticas que mascarem o lodaçal fétido da diplomacia internacional.
A reacção - também ela cada vez mais global - contra a globalização, não combate um conceito que poderia até ser interpretado de uma forma ambiental e socialmente equilibrada (ex.: taxa Tobin), mas antes uma bem urdida teia de interesses norte-americanos e europeus que, em prejuízo dos direitos mais elementares de uma porção significativa da população mundial, prosseguem a sua marcha triunfal sobre as economias depauperadas dos países sub-desenvolvidos e em vias de desenvolvimento.
As metas que enformaram o plano de acção desta Cimeira eram de tal forma pouco ambiciosas que os próprios agentes económicos mais perversamente implicados nesta cruzada desenfreada pelo triunfo do capital global devem estar agradavelmente surpreendidos com os resultados obtidos. O “sucesso” despudoradamente apregoado por alguns líderes mundiais só serve uma minoria depredatória, amoral e geracionalmente egoísta que compromete seriamente o futuro da humanidade, sacrificando-a no altar da globalização neoliberal.
Esta é a globalização das injustiças sociais e da exploração irracional dos recursos. Com ela se vai cavando diligentemente o fosso entre ricos e pobres, entre globalizantes e globalizados. Uma ameaça, porém, é global e terrível, afectando indistintamente uns e outros – a destruição progressiva dos ecossistemas e a veloz aproximação do ponto de ruptura a que chamamos insustentabilidade!

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