sexta-feira, 3 de outubro de 2003

Revisionismo histórico

A recente inauguração do busto de Adelino Amaro da Costa no jardim do Palácio de Cristal é uma acto duplamente lamentável.
Em primeiro lugar, contraria a vontade dos cidadãos do Porto que, maioritariamente, não se revêem nesta iniciativa voluntarista e inoportuna de Rui Rio. Em segundo lugar, a homenagem está inserida numa inaceitável operação de revisionismo histórico orquestrada pelo actual líder do CDS-PP que é, a todos os níveis, ofensiva da memória e do património humano do partido a que preside.
A patética, mas nada inocente, colagem a Adelino Amaro da Costa surge na linha de outras comparações do ministro de Estado e da Defesa com personagens como Donald Rumsfeld aquando da visita deste último ao nosso país.
Paulo Portas apresenta de si próprio uma imagem perigosamente próxima do arquétipo dos seus inimigos políticos. Quem lhe adivinharia as tendências para o revisionismo histórico e para o culto da personalidade quando, nas revoltadas páginas do “Independente”, ia destilando indignação e ódio contra os pecadilhos políticos da era cavaquista? E que dizer então da coincidência destas práticas de promoção pessoal com as do regime estalinista, permanentemente zurzido pelo líder do PP, mesmo passadas décadas sobre o fim do mesmo?
Para além desta inauguração e dos discursos de circunstância, ficou clara a estratégia de Paulo Portas. Pretende manter o seu poder dentro do Governo, por força de uma coligação que lhe permite dispor de um protagonismo e influência política que não corresponde nem de perto nem de longe ao peso político do seu partido na sociedade portuguesa.
Esta situação perverte a representatividade democrática no Governo da nação e esvazia o futuro político do CDS-PP, através de uma abdicação permanente das suas bandeiras históricas em matérias como o federalismo, a regionalização, o aborto, etc.
O CDS-PP está a pagar um preço demasiadamente elevado - o seu próprio futuro enquanto partido independente - pela ambição pessoal de Paulo Portas.

Sem comentários: