segunda-feira, 28 de novembro de 2005

Rigor, seriedade, competência e... muito voluntarismo






Podia ser um "slogan" estafado de mais um candidato presidencial... mas é o lema não oficial do Banco Alimentar.

Esta organização é, sem sombra de dúvida, um exemplo de cidadania participativa. Mais do que um projecto de caridade "salazarenta", trata-se de um conceito-acção de verdadeira solidariedade social, que se conseguiu afirmar ante a indiferença e a desconfiança generalizada dos portugueses.

O sucesso estrondoso da campanha deste fim-de-semana justificou a máxima: "não é importante que haja poucos a dar muito, mas sim que haja muitos a dar pouco". Assim foi.

Quem, como eu, esteve no armazém do Banco a receber os produtos - que chegavam em torrente - não podia deixar de sentir um genuíno orgulho em ser português, em verificar que a máquina consumista e individualista em que nos tornámos ainda tem alguns "bugs" de solidariedade a lembrar-nos que, antes de sermos "isto", éramos homens.

Com notícias assim, apetece pôr a bandeira de Portugal à janela!

quarta-feira, 16 de novembro de 2005

Cavaco na TVI

A entrevista concedida, com notório enfado, por Cavaco Silva à TVI foi ela própria enfadonha.
Nem a arrogância gratuita de Constança Cunha e Sá afastou o "Professor" do discurso que tinha delineado para aquela entrevista e que, sublinhe-se, não podia ser mais previsível.
Numa frase, Cavaco tem isto para dizer aos portugueses: "Um tecnocrata na Presidência aumenta a confiança dos investidores e, por essa via, contribui para a retoma económica".
Como diria Soares, "é curto" para um Presidente da República.

De afronta em afronta

A verdadeira questão de fundo relativamente ao despacho do ministro Mário Lino não é a tese, rebuscada, de se estar a desautorizar o primeiro-ministro no que respeita aos compromissos assumidos sobre o metro do Porto. É, à semelhança do que aconteceu recentemente com a eliminação da linha do TGV entre Porto e Vigo, uma afronta gravíssima a toda a Área Metropolitana do Porto (cuja Junta, note-se, é uma não-entidade).

sexta-feira, 4 de novembro de 2005

Anúncio de Jornal

Bom negócio.
Troco tabuleiro de xadrez, em bom estado, por fotografias antigas tiradas em residência na zona de Elvas.

sexta-feira, 28 de outubro de 2005

Aí está...

... o resultado de termos um Presidente da Câmara que não se considera representante de uma região.
Segundo notícias recentes será intenção do Governo que o TGV venha a ligar o Porto a Lisboa (com paragem em Leiria?!) e Lisboa a Madrid. A ligação entre o Porto e Vigo é afastada dos planos da Administração Central.
O que dirá ou fará Rui Rio relativamente a esta afronta? Muito pouco ou nada, atendendo à percepção que tem dos poderes que lhe foram atribuídos a 9 de Outubro...

sexta-feira, 21 de outubro de 2005

Tanto haveria a dizer...

... sobre os resultados das eleições autárquicas, sobre o Orçamento de Estado, sobre a candidatura de Cavaco Silva... mas infelizmente (ou felizmente!), não temos tempo!

Talvez esta limitação se revele positiva a médio prazo. O que aqui se escrever sobre estes temas resultará de uma digestão mais demorada e não estará tão condicionado por estados de alma momentâneos.

Este blogue atravessa uma fase em que todos os copos se encontram "meio cheios" e não "meio vazios", daí o "wishful thinking" do parágrafo anterior.

sexta-feira, 7 de outubro de 2005

Debate autárquico sobre o Porto (RTP 1)

Para começar, uma constatação óbvia: o vencedor (mais do que surpreendente) foi Rui Sá.
Dito isto, poder-se-á acrescentar que Assis desperdiçou uma excelente oportunidade para demonstrar a sua superior preparação para ocupar a presidência da autarquia portuense. Quem apenas o ficou a conhecer por via deste debate não terá ficado com a melhor impressão.
Claro que Rio continuou no seu estilo crispado e irritadiço, mas esperava-se melhor réplica por parte do candidato socialista. Principalmente depois de este último ter lamentado durante toda a campanha a pouca disponibilidade de Rio para debates.
O "coelho" que Rio tirou da cartola foi de mau gosto e, dizem-no fontes seguras, nem sequer corresponde inteiramente à verdade. Assis reagiu à provocação de forma correcta e em tempo útil.
Teixeira Lopes foi um não participante no debate. Apenas se dava pela sua presença quando um dos jornalistas, perante a apatia continuada do bloquista, o interpelava sobre algum assunto.

Rui Sá, apesar de se encontrar na posição incómoda de crítica a um executivo do qual fez parte, soube ocupar de forma exemplar um espaço significativo do debate e atingiu plenamente os seus dois objectivos principais: anular Teixeira Lopes e evitar a bipolarização Rio-Assis do debate.

Ainda o debate autárquico

É exasperante continuar a ouvir Rio dizer que o presidente da CMP é apenas o líder da autarquia portuense!
Esta visão paroquial do poder que lhe caiu nas mãos há quatro anos é hoje inexplicável. Enquanto não se avançar para a imprescindível e cada vez mais necessária regionalização, a verdade é que se não for o presidente da CMP a funcionar como factor de pressão regional junto da Administração Central, não será seguramente o líder da Junta Metropolitana a fazê-lo! E é esta componente simbólica do poder confiado aos presidentes da CMP que Rio se recusa, teimosamente, a exercer.

A blogar desde Setembro de 2003

Já soprámos mais uma velinha. O bolo é ainda mais pequeno do que em anos anteriores e o "champanhe" desta vez é vinho espumante nacional. O céu continua negro, tal como há dois anos atrás.
Começo a ficar farto de escrever sobre um país em crise.

quinta-feira, 29 de setembro de 2005

Na esplanada...

- Queria uma garrafa de água, por favor.
- Com gás ou sem gás?
- Pode ser com gás.
- Fresca ou natural?
- Fresquinha.
- Com radiações "alfa" ou "beta"?
- ?!

quarta-feira, 28 de setembro de 2005

Valentins há muitos!

"Uma Campanha Alegre"

Sem partido, sem figuras públicas, sem fazedores de opinião, sem consensos, sem sondagens, sem tecnocratas.
É difícil resistir ao charme do último candidato romântico.

segunda-feira, 26 de setembro de 2005

Preocupação

No próximo dia 9 de Outubro apenas 4 resultados eleitorais são, para mim, verdadeiro motivo de preocupação: Oeiras, Amarante, Felgueiras e Gondomar.

sexta-feira, 23 de setembro de 2005

O vómito

O circo montado à volta do regresso de Fátima a Felgueiras induz o vómito de qualquer democrata. Convém não esquecer o que aconteceu em Felgueiras em 2003 e, já agora, revisitar o post de 3.10.2003, aqui no HHT ("Causas e Consequências").

sexta-feira, 16 de setembro de 2005

Portocentrismo

Ontem à noite valeu a pena ir ao Majestic. E não só para matar saudades do espaço. A tertúlia organizada pelo Sport Club do Porto teve como moderador Carlos Magno e como convidado Francisco Assis.
Pelas outras mesas encontravam-se alguns cidadãos menos anónimos como Pedro Bacelar de Vasconcelos, Correia Fernandes e Braga da Cruz.
Assis demonstrou o que já se suspeitava. É infinitamente melhor do que aquilo que a sua imagem deixa transparecer. Há claramente responsabilidades a imputar aos seus responsáveis de campanha por não conseguirem tornar evidentes à opinião pública as inegáveis qualidades políticas do candidato.
A tertúlia animou quando Carlos Magno interrompe abruptamente Assis e pergunta "Afinal qual é o problema do Portocentrismo?". Há tabus que a cidade precisa de ultrapassar! O receio de ser "parolo" é uma forma de "parolismo", quanto a isso não haverá grandes dúvidas.
Assis afirmou a sua disponibilidade para afrontar a Administração Central e ressalvou, de forma prudente, que não estará nunca em causa a relação privilegiada com Lisboa, enquanto cidade com a qual o Porto partilha desafios comuns.
Falou-se ainda de arquitectura portuense, Kant e o positivismo, estacionamentos na baixa, "media park", Futebol Clube do Porto, parques tecnológicos, transportes públicos, sociedade de reabilitação urbana, institutos de investigação, captação de investimento estrangeiro, envelhecimento, fuga de competências, parques verdes, regionalização…
As farpas de Assis ao candidato Rui Rio podem ser resumidas da seguinte forma: "Não é aceitável que um político esteja sempre a vangloriar-se da sua honestidade, pelo simples facto de esta ser um requisito inerente à condição de qualquer político e não um qualquer suplemento extraordinário apenas possuído por alguns escolhidos."
Em suma, foi um exercício de cidadania e participação democrática interessantíssimo, mas que lamentamos ocorrer apenas em época eleitoral, apesar das promessas ontem formuladas em sentido contrário.

segunda-feira, 5 de setembro de 2005

A jóia da república

O Homem-a-Dias diz acertadamente que "Nem francesas, nem italianas, nem brasileiras, nem americanas: o verdadeiro artigo mora na Hungria"! Há poucas semanas fui guiado no edifício do Parlamento Húngaro por uma nativa cuja beleza me fez esquecer por momentos o verdadeiro motivo da visita. As jóias da coroa não eram com toda a certeza uma coroa amarfanhada e um ceptro manhoso, atirados para cima de uma almofada de veludo e fechados naquela caixa envidraçada à minha frente. A guia, cujo nome não cheguei a perceber, era a verdadeira jóia; não da coroa (que os ares agora são outros) mas da república.

quinta-feira, 1 de setembro de 2005

Intermodalidade


Apesar de ter estado para lá da cortina de ferro durante cinco décadas, Budapeste tem hoje uma das mais eficientes rede de transportes urbanos da Europa, servindo uma população de 2 milhões de habitantes. A articulação entre autocarros, metropolitano e "trams" é quase perfeita e permite índices de mobilidade invejáveis para qualquer metrópole da idêntica dimensão.
Acresce o facto de existir metropolitano em ambas as margens do Danúbio, ligadas por um túnel que une Buda e Peste por baixo do rio.

quarta-feira, 31 de agosto de 2005

Ufa! (no Largo do Rato)

Sócrates respirou de alívio ontem à noite. Alegre não quer fracturar o eleitorado socialista e abdica da sua candidatura presidencial em "favor" de Mário Soares. Não sem antes espetar alguns alfinetes envenenados no seu correligionário.
Depois de ouvir o discurso de Alegre, não se pode deixar de pensar que a sua candidatura, a realizar-se, congregaria uma parte significativa da esquerda mas seria muito pouco apelativa para o "centrão" que cada vez mais decide estas e outras eleições. Os bons candidatos, já se sabe, são aqueles que oferecem garantias de vitória e Alegre, talvez apenas neste aspecto, não era um bom candidato. O PS sabe-o desde o início e Alegre também. Soares "apenas" tirou partido do facto.
Entretanto Belmiro de Azevedo já manifestou apoio à eventual candidatura de Cavaco, tendo sido apoiante de Mário Soares nas suas anteriores candidaturas presidenciais. Adivinha-se a explicação para esta mudança, mas será interessante ouvi-la da boca do próprio.
Ou é o argumento da idade ou o da formação em Economia/Finanças. Salvo notícia de última hora, Belmiro não é jovem e tem uma formação de base em engenharia, continuando hoje a dirigir, com resultados positivos, o seu Grupo de dimensão internacional.

Incêndios lá fora

Um post do "Rua da Judiaria" que deve ser enviado urgentemente à malta que (des)coordena a prevenção e o combate a incêndios em Portugal. Além de dar um exemplo interessante tem ligações a documentação relacionada com medidas preventivas. Um post de serviço público.

segunda-feira, 29 de agosto de 2005

Imitando o mundo do futebol

As declarações de Paulo Morais à Visão não podem surpreender. Estão na mesma linha de outras proferidas por dirigentes desportivos que, em alturas de maior aperto financeiro e/ou desportivo, lançam acusações em todas as direcções, suspeitando de tudo e de todos mas sempre sem indicarem um único nome, uma única situação concreta.
O anátema lançado por Paulo Morais - oportun(istic)amente após a exclusão da lista eleitoral autárquica do PSD/CDS - sobre membros do Governo, presidentes de câmara, vereadores, empresários da construção civil e outros elos da "cadeia de pressões" que ele afirma conhecer profundamente não o dignifica e permite diversas especulações sobre a sua idoneidade para o exercício do cargo durante o mandato que ora finda.

terça-feira, 23 de agosto de 2005

Pode ser que não volte a acontecer!

Admito que desconheço o custo de um desfibrilador portátil, mas a realidade é que no aeroporto de London-Stansted (que está para os grandes aeroportos como a Zara está para a Hermés) encontra-se um destes equipamentos de emergência em cada corredor de embarque.
Vem esta reflexão ainda a propósito da discussão em torno da morte de Miklos Fehér. Alguém disse que não era comportável dispor de um desfibrilador em cada estádio de futebol, não foi?

Sem surpresa

Tal como se previra no último post antes de férias, Soares avançou para a pré-candidatura presidencial, esmagando Manuel Alegre que, antes dele, se fizera ao mesmo caminho.

É no mínimo divertido assistir às dores tomadas pela Direita relativamente ao destino de Alegre. Quem lhes adivinharia tanta preocupação pelos sentimentos feridos do poeta tantas vezes apodado por esta mesma Direita de "extremista radical do PS"? Mas compreende-se que o nervosismo vá aumentado à medida que o tempo passe e o Professor continue silencioso.

Já aqui foi dito que não é um bom augúrio de maturidade democrática a candidatura de Soares. Ainda que, atendendo às restantes pré-candidaturas (mais ou menos assumidas), seja aquela que, aparentemente, melhor servirá os interesses do país. O argumento da idade, por ser ridículo, nem merece comentário nestas linhas!

É, isso sim, de lamentar que o sistema democrático tenha sido incapaz de produzir, nas gerações posteriores à de Soares, políticos com condições de desempenhar o cargo com igual ou superior competência. Pensemos por instantes nas eleições presidenciais que se seguirão... Cavaco não arriscará uma terceira derrota eleitoral e, portanto, não será candidato; Soares, dificilmente terá condições físicas e psíquicas para se recandidatar. O "vazio" à esquerda poderá então ser preenchido por Vitorino, Alegre, Gama ou Guterres, mas... e à direita?

sexta-feira, 22 de julho de 2005

Presidenciais

Cavaco está a jogar bem. Lançar a candidatura após as autárquicas (será imediatamente após, ou nem por isso?) limita ainda mais a actuação da Esquerda. Vejamos:

(1) Se lançar um candidato antes das autárquicas, este será imolado na praça pública sem hipóteses de retaliar, por ausência de opositor assumido.

(2) Se lançar um candidato após as autárquicas (hipótese mais provável) terá dificuldades em "vender", em tão pouco tempo, um qualquer perfil mais adequado à função do que Manuel Alegre, mas menos mediatizado (como Carlos Monjardino).

Perante estes cenários, a terceira via consiste na (pouco) surpreendente recandidatura de Mário Soares que, estatisticamente, seria a mais favorável à Esquerda de acordo com todas as sondagens.

Esta "solução" é sintomática do estado da Nação. Apesar de tudo, a melhor opção para o futuro parece ser o regresso ao nosso passado.

sexta-feira, 8 de julho de 2005

Viver entre dois atentados

Temo bem que os próximos tempos continuem marcados pela "rotina do terror" com que fomos brindados neste início de milénio.
Não sabemos onde nem quando, mas sabemos que vai voltar a acontecer.
A nossa condição permanente passa a ser "entre dois atentados". Inaugurou-se uma nova escala cronológica, universal e vergonhosa!

quarta-feira, 6 de julho de 2005

Entrevista à SIC

Entrevistadores muito "tenrinhos". Sócrates bem preparado.
Porém, uma falha monumental...
A comparação entre Fernando Gomes e Ferreira do Amaral consistiu em justificar uma má nomeação com outra ainda pior! No melhor pano...

terça-feira, 21 de junho de 2005

Há anos assim...

Em Salvador da Bahia para fugir à invernia e em Budapaste para fugir à canícula.

terça-feira, 14 de junho de 2005

Passeio Alegre

Chegaram tarde à minha vida
as palmeiras. Em Marraquexe vi uma
que Ulisses teria comparado
a Nausica, mas só
no jardim do Passeio Alegre
comecei a amá-las. São altas
como os marinheiros de Homero.
Diante do mar desafiam os ventos
vindos do norte e do sul,
do leste e do oeste,
para as dobrar pela cintura.
Invulneráveis — assim nuas.


Eugénio de Andrade, "Rente ao Dizer" (1992)

segunda-feira, 13 de junho de 2005

Luto portuense

A cidade acordou sob um céu plúmbeo.
Imagino que no Passeio Alegre chovesse copiosamente e que as palmeiras estivessem curvadas pelo vento que sopra da barra.
O Eugénio morreu e este blog ficou irremediavelmente mais pobre.

Numa mão a pena e na outra a espada

Eugénio de Andrade e Álvaro Cunhal.
Como dizia pela manhã Eduardo Lourenço, foi o século XX que se veio despedir de nós esta noite.

terça-feira, 7 de junho de 2005

Nestes últimos tempos

Nestes últimos tempos é certo que a esquerda fez erros
Caiu em desmandos confusões praticou injustiças
Mas que diremos da longa tenebrosa e perita
Degradação das coisas que a direita pratica?
Que diremos do lixo do seu luxo - de seu
Viscoso gozo da nata da vida - que diremos
De sua feroz ganância e fria possessão?
Que diremos de sua sábia e tácita injustiça
Que diremos de seus conluios e negócios
E do utilitário uso dos seus ócios?
Que diremos de suas máscaras álibis e pretextos
De suas fintas labirintos e contextos?
Nestes últimos tempos é certo que a esquerda muita vez
Desfigurou as linhas do seu rosto
Mas que diremos da meticulosa eficaz expedita
Degradação da vida que a direita pratica?


Sophia de Mello Breyner Andresen, Julho de 1976

segunda-feira, 6 de junho de 2005

Mais uma vez!

A histeria generalizada relativamente à reforma dos políticos traduz aquilo que de mais tacanho subsiste na psique lusitana. A pequena inveja.
Aposto dobrado contra singelo que a imensa maioria dos jornalistas que acusam certos políticos de falta de ética seriam os primeiros a não recusar direitos legalmente adquiridos.
Estas manifestações degradantes aconteceram no passado recente com Fernando Pinto, acontecem agora com Alberto João Jardim e acontecerão no futuro. Triste.

sexta-feira, 3 de junho de 2005

Este blog mantém a sua tradição premonitória (cf. post de 22/07/2004) .

Obras Públicas

Num contexto de contenção financeira e verbal generalizada, é delicioso assistir ao discurso de Mário Lino. Percebe-se a necessidade do ministro em declarar quase diariamente à comunicação social o arranque iminente de vultuosas obras públicas como a linha do TGV e o aeroporto da OTA. Por um lado, sossega o destroçado sector da construção e por outro exorciza os seus fantasmas pessoais... É que tanto ele como os seus colegas de Executivo sabem que nenhuma das duas obras arrancará nos tempos mais próximos.

N. do A.

A ausência de posts recentes fica-se a dever a uma intensificação do contributo pessoal do autor destas linhas para o aumento da competitividade das empresas portuguesas.

terça-feira, 10 de maio de 2005

Campo Aberto

Mais um exercício de cidadania com sotaque nortenho.
A Campo Aberto inaugurou o seu blog e daqui envio os meus parabéns ao Nuno Quental pela sua invulgar capacidade de iniciativa.

terça-feira, 26 de abril de 2005

Com a devida vénia à "Natureza do Mal"

Faço questão de reproduzir aqui uma constatação que, apesar de óbvia (e talvez por isso), é desconcertante:

O problema não é a vida sem ti. Já tive uma vida assim e eram dias que faziam todo o sentido. Difícil é uma vida depois de ti. O depois não acaba nunca.

terça-feira, 29 de março de 2005

Até quando o "estado de graça"?

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Terror de te amar

Terror de te amar num sítio tão frágil como o mundo

Mal de te amar neste lugar de imperfeição
Onde tudo nos quebra e emudece
Onde tudo nos mente e nos separa.

Sophia de Mello Breyner Andresen

sábado, 19 de março de 2005

Discrição/Confidencialidade/Sigilo/Prudência Socrática

Após um longo retiro (forçado pelas circunstâncias do país que nos aconteceu) apetece-me novamente escrever sobre política. Falta-me a matéria...

Regressarei

Eu regressarei ao poema como à pátria à casa
Como à antiga infância que perdi por descuido
Para buscar obstinada a substância de tudo
E gritar de paixão sob mil luzes acesas.

(Sophia de Mello Breyner Andresen)

quarta-feira, 16 de março de 2005

Deslumbramentos

Milady, é perigoso contemplá-la
Quando passa aromática e normal,
Com seu tipo tão nobre e tão de sala,
Com seus gestos de neve e de metal.

Sem que nisso a desgoste ou desenfade,
Quantas vezes, seguindo-lhes as passadas,
Eu vejo-a, com real solenidade,
Ir impondo toilettes complicadas!…

Em si tudo me atrai como um tesoiro:
O seu ar pensativo e senhoril,
A sua voz que tem um timbre de oiro
E o seu nevado e lúcido perfil!

Ah! Como me estonteia e me fascina…
E é, na graça distinta do seu porte,
Como a Moda supérflua e feminina,
E tão alta e serena como a Morte!…

Eu ontem encontrei-a, quando vinha,
Britânica, e fazendo-me assombrar;
Grande dama fatal, sempre sozinha,
E com firmeza e música no andar!

O seu olhar possui, num jogo ardente,
Um arcanjo e um demónio a iluminá-lo;
Como um florete, fere agudamente,
E afaga como o pêlo dum regalo!

Pois bem. Conserve o gelo por esposo,
E mostre, se eu beijar-lhe as brancas mãos,
O modo diplomático e orgulhoso
Que Ana de Áustria mostrava aos cortesãos.

E enfim prossiga altiva como a Fama,
Sem sorrisos, dramática, cortante;
Que eu procuro fundir na minha chama
Seu ermo coração, como a um brilhante.

Mas cuidado, milady, não se afoite,
Que hão-de acabar os bárbaros reais;
E os povos humilhados, pela noite,
Para a vingança aguçam os punhais.

E um dia, ó flor do Luxo, nas estradas,
Sob o cetim do Azul e as andorinhas,
Eu hei-de ver errar, alucinadas,
E arrastando farrapos - as rainhas!

Cesário Verde

E agora?

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quarta-feira, 12 de janeiro de 2005

Outdoor

Ia escrever sobre a recusa de Cavaco em aparecer ao lado de Santana nos outdoors de campanha, mas percebi imediatamente que o facto político verdadeiramente relevante (e esse sim, intrigante!) foi o facto de Barroso e Balsemão não terem idêntica atitude. Sobre uma eventual recusa de Sá-Carneiro, tenho a minha teoria que me abstenho de publicar, concordando com Pacheco Pereira: já que Santana não respeita os mortos, pelo menos façamo-lo nós.

Um país ex-bipolar

A previsível continuação da não-retoma económica poderá ser a terapia que faltava para combater a doença bipolar de que padecia uma quantidade muito significativa de portugueses. De facto, se até aqui praticavam a transumância da depressão profunda para a euforia inabalável ao ritmo de uma exposição universal ou de um campeonato europeu de futebol, o prolongamento da "crise" provocou a ancoragem emocional no pólo depressivo e dificilmente se vislumbram novas alterações no quadro clínico.