quarta-feira, 31 de dezembro de 2003

O processo Casa Pia e a Comunicação Social



Jurista de bancada

Com ou sem razão (aguardemos pelos próximos episódios), o Ministério Público deu ontem a estocada final no já agonizante Partido Socialista.
Nesta fase do campeonato, a opinião pública já pouco estranharia a notícia do alegado envolvimento de António Guterres, Mário Soares ou António Vitorino neste caso sórdido.
Convém, portanto, ter presente que a lama que foi atirada pela comunicação social para cima do secretário-geral e de um membro da Comissão Política (e putativo candidato presidencial) nunca será completamente limpa ainda que venha a ser provada a sua inocência.
Por outro lado, se os factos apurados pelo Ministério Público se revelarem verdadeiros, será reconfortante saber que a Justiça foi cega no que respeita ao prestígio/poder/estatuto das personalidades envolvidas.
Em suma, para além da culpa dos arguidos, este julgamento vai servir para avaliar o funcionamento do Ministério Público - que tem vindo a ser duramente criticado pelos vários agentes da Justiça.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2003

É inevitável

... escrever até quarta-feira algum título que comece com "O melhor"/"O pior" e acabe com "de 2003"?
A avaliar pelos ilustres vizinhos de blogosfera deve ser missão quase impossível, mas o HHT tentará resistir.

Nem 8 nem 80

Ferro tem seguido à risca a máxima napoleónica de "nunca interromper o inimigo enquanto este estiver a cometer um erro", mas começa a aproximar-se perigosamente do exagero...
Com as perspectivas sombrias que o Governo apresentou para 2004, exige-se ao principal líder da Oposição mais algum dinamismo na denúncia de tamanha incompetência.
O próprio Napoleão teria feito o mesmo.

Será por isto a blogosfera?

"Escrevemos porque ninguém nos ouve."
(Georges Perros)

Máquinas

O novo estádio municipal de Braga é, indiscutivelmente, uma admirável obra de engenharia. É também certo que foi o que representou o maior custo por cadeira.
Mas para além de um e de outro aspecto, ao olhar para a obra, algo me recorda, por antítese, Le Corbusier.
Este afirmava que "uma casa é uma máquina de morar". Seguindo o mesmo raciocínio, "um estádio é uma máquina de jogar e de ver jogar". Assim sendo, aquelas duas superiores graníticas, sem bancadas, são esteticamente agradáveis mas não cumprem definitivamente a função da obra.

domingo, 28 de dezembro de 2003

(In)dependências

O fosso entre a opinião pública e a opinião publicada cresceu, indesejavelmente, em 2003.
Ninguém acredita que o país se identifica maioritariamente com as omnipresentes opiniões de Rebelos, Pachecos, Santanas e Delgados. A vitória tangencial da direita nas últimas eleições legislativas foi ampliada de forma violentíssima no realinhamento ideológico da comunicação social, provocando um divórcio incontornável entre a opinião pública e a opinião publicada.

sábado, 27 de dezembro de 2003

Prémio "Vão começar pelos azulejos ou pelos móveis?"

"Queremos levar o balneário das Antas para o Dragão."
(Jorge Costa, "O Jogo")

Como se passa uma esponja sobre o futuro?

Sinto-me sempre perdido com os "momentos em contra-ciclo".
Momentos em que se é feliz por quase nada quando se perdeu quase tudo.

O paradoxo da passagem de ano 2003-2004

O riso e o choro...

Nunca como este ano houve tantos motivos para festejar a despedida do ano que finda.
Nunca como este ano houve tantos motivos para lamentar o ano que começa.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2003

O Porto é só...

O Porto é só uma certa maneira de me refugiar na tarde,
forrar-me de silêncio
e procurar trazer à tona algumas palavras
sem outro fito
que não seja o de opor ao corpo espesso destes muros
a insurreição do olhar.

O Porto é só esta atenção empenhada
em escutar os passos dos velhos
que a certas horas atravessam a rua
para passarem os dias no café em frente
os olhos vazios,
as lágrimas das crianças de S. Vítor
correndo nos sulcos da sua melancolia.

O Porto é só a pequena praça
onde há tantos anos aprendo metodicamente
a ser árvore
procurando assim parecer-me com a terra obscura
do meu próprio rosto.

Desentendido de ansiedade
olho na palma da mão
os resíduos da juventude
e dessa paixão sem regra
deixarei aqui uma pétala
pois aqui por ser tão branca.

(Eugénio de Andrade)


Este era o poema que faltava num blogue com paternidade Portuense. Agora que está definido o espaço afectivo que enforma estas linhas, parto para a ceia de Natal com a certeza de já ter aberto um presente.

He Wishes for the Cloths of Heaven

Had I the heavens' embroidered cloths,
Enwrought with golden and silver light,
The blue and the dim and the dark cloths
Of night and light and the half-light,
I would spread the cloths under your feet:
But I, being poor, have only my dreams;
I have spread my dreams under your feet;
Tread softly because you tread on my dreams.

(William B. Yeats)

terça-feira, 23 de dezembro de 2003

O Fundo

Insólitos prognósticos do Governo para 2004. A economia afinal só descolará em 2005 (se tudo correr bem) e o próximo ano assistirá ao aumento do número de desempregados...
Após meses intermináveis a afirmar que o País batera no fundo após a governação socialista, eis que se anuncia o impensável!
Afinal escavou-se mais um bocadinho o fundo da crise e este passou a estar a uma cota ainda mais baixa.
Barroso imita Júlio Verne e tenta a "Viagem ao Centro da Terra".

Never Give All The Heart

Never give all the heart, for love
Will hardly seem worth thinking of
To passionate women if it seem
Certain, and they never dream
That it fades out from kiss to kiss;
For everything that's lovely is
But a brief, dreamy. Kind delight.
O never give the heart outright,
For they, for all smooth lips can say,
Have given their hearts up to the play.
And who could play it well enough
If deaf and dumb and blind with love?
He that made this knows all the cost,
For he gave all his heart and lost.

(William B. Yeats, "In the Seven Woods")


terça-feira, 16 de dezembro de 2003

Prémio "As potencialidades dos polímeros"

Na sua visita-relâmpago a Bagdade, o presidente Bush ofereceu uma generosa bandeja de perú aos seus homens. A ave, afinal, era de plástico.

Apanharam-no mesmo?

O homem das barbas que em meados de Dezembro fez a capa de quase todos os jornais do mundo não é, ao que tudo indica, o Pai Natal.
Cientistas americanos, com base em testes de ADN, afirmam tratar-se de Saddam Hussein. É contudo desejável que esses testes não tenham sido efectuados pelos mesmos cientistas que tinham provas da existência de armas de destruição maciça no Iraque... Nesse caso, poder-se-á tratar realmente do Pai Natal!

quarta-feira, 10 de dezembro de 2003

É inegável

A política nos Açores anda a reboque da política no continente. Até na pedofilia!

terça-feira, 9 de dezembro de 2003

Prémio “A vantagem de ter um presidente ex-KGB”

O partido de Putin, “Rússia Unida”, assegura a maioria na Duma sob um clima de fortes suspeitas de fraude eleitoral.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2003

Papel usado: não recicle, reutilize!

Numa fase de acesa polémica sobre o destino da PORTUCEL, esta nova engenhoca pode vir a distorcer algumas das contas que foram feitas sobre o futuro do sector.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2003

"German cannibal says victim was willing"

Ora aqui está uma linha argumentativa que a defesa ainda não explorou no Processo da Casa Pia. Seria algo do género:
"Meretíssimo Juiz, o meu constituinte afirma convictamente e sob palavra de honra que todas as vítimas de pedofilia, sem excepção, pediram para ser violadas."

"Hans Eichel aponta Portugal como exemplo a não seguir"

Aposto que a Ministra das Finanças nem queria acreditar nos seus olhos quando leu esta notícia. Até tu "Brutus"?

Maquiavel escreve sobre... O ENQUADRAMENTO POLÍTICO DE PAULO PORTAS NO EXECUTIVO BARROSISTA

(...) para que um príncipe possa conhecer o ministro, há um meio que nunca falha. Quando o príncipe veja que o ministro pensa mais em si do que nele, e que em todas as acções procura a utilidade própria, verificará assim que nunca será bom ministro e que nunca se poderá fiar nele. (...) E, por outro lado, o príncipe, para o conservar bom, deve pensar no ministro, honrá-lo, enriquecê-lo, torná-lo obrigado, dando-lhe participação nas honras e nos cargos, a fim de que veja que não pode passar sem ele, príncipe, e que as muitas honrarias façam que não deseje mais riquezas, e que os muitos cargos lhe façam temer quaisquer mudanças. Quando então os ministros, e os príncipes por relação aos ministros, são assim constituídos, podem confiar um no outro; e quando as coisas se passam diversamente, sempre o fim será danoso ou para um ou para outro.
(Nicolau Maquiavel, “O Príncipe”)

Maquiavel escreve sobre... AS OBSESSÕES PESSOAIS DE PEDRO SANTANA LOPES

Nada traz tanta estima a um príncipe, como as grandes empresas e o dar de si exemplos raros no que respeita ao governo das coisas internas (...) quando a ocasião se lhe depare na vida civil de que cometa algum acto extraordinário no bem ou no mal; e ajuda adoptar uma forma de premiar ou punir de que bastante se tenha de falar. E sobretudo deve um príncipe esforçar-se por adquirir em todas as suas acções, fama de homem grande e excelente. (...) Deve, ainda, mostrar-se um príncipe amador das virtudes, e honrar os que primam numa arte. (...) Deve, além disso, nas fases convenientes do ano, manter ocupados os povos com festas e espectáculos. E porque toda a cidade está dividida em corporações ou em classes, deve ter em conta essas comunidades, reunir-se com elas alguma vez, dar de si exemplos de humanidade e munificência, conservando sempre firme, não obstante, a majestade da sua dignidade, porque isto não deve faltar em coisa alguma.
(Nicolau Maquiavel, “O Príncipe”)