domingo, 18 de janeiro de 2004

Portugal e a cauda da Europa – um namoro recente ou uma paixão ancestral?

A decisão do alargamento a leste da União Europeia suscitou entre os portugueses um conjunto de inquietações. Porém, uma das poucas “vantagens” identificáveis neste alargamento parece consensual – Portugal deixa, de uma assentada, a incómoda posição da cauda europeia e ainda por cima sem mexer uma palha.
Ou seja, não interessa que mantenhamos o desempenho medíocre de sempre em quase todos os indicadores económicos, ambientais, culturais e sociais, desde que vão aderindo ao clube europeu novos países com desempenhos ainda piores do que o nosso. Delirante!
Naturalmente, qualquer português minimamente esclarecido consegue desde já adivinhar o rápido regresso de Portugal à caudal posição. O mesmo adivinhou Eça que, em Janeiro de 1872, já ia dizendo que “nós estamos num estado comparável somente à Grécia: mesma pobreza, mesma indignidade política, mesma trapalhada económica, mesmo abaixamento dos caracteres, mesma decadência do espírito. Nos livros estrangeiros, nas revistas, quando se quer falar de um país caótico e que pela sua decadência progressiva poderá vir a ser riscado do mapa da Europa – citam-se, a par, a Grécia e Portugal.”
Nem ele imaginaria que a Grécia já há muito nos ultrapassou e que os países agora arregimentados para esta Europa o farão em muito pouco tempo.

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