segunda-feira, 10 de maio de 2004

O Porto, território dinâmico de afectos e cumplicidades

A cidade não poderia nunca ter chegado a esta letargia! A derrota no referendo à regionalização e o apagamento comprometido dos seus mais recentes líderes autárquicos não podem explicar em absoluto o gradual desaparecimento da geografia política, social, económica e cultural a que a urbe foi votada.
O momento é particularmente grave. A cidade encontra-se refém de um modelo de gestão economicista, cujas linhas estratégicas são definidas em termos de rubricas financeiras, como se a capacidade de administração da coisa pública fosse cabalmente avaliada num relatório e contas ou numa demonstração de resultados.
O adiado sonho portuense da metrópole centralizadora (prefiro chamar-lhe aglutinadora) do Noroeste peninsular vai-se comprometendo diariamente e soçobra exangue às mãos laboriosas do empreendedor engenho galego.
Isolados na olissiponense torre de marfim, os políticos da(o) capital rejubilam sornamente com a falta de rasgo, a subserviência, o esvaziamento intelectual e os tiques provincianos de um certo Porto que julgam conhecer. Na sua arrogância centralista, não conseguem perceber que a falência do capital económico e político do Norte é, a prazo, a falência de um dos esteios da identidade nacional no contexto da Europa das regiões. É também a falência de Lisboa, enquanto capital de um não-país.
Curiosamente, ou talvez não, assistimos hoje na blogosfera a um movimento em contra-corrente de afirmação da matriz idiossincrática portuense. Esta proliferação de blogs materializa um anseio colectivo que corta com a tradicional sociedade civil portuguesa, profundamente egoísta, ensimesmada e abúlica.
A blogosfera é, porém, um fórum de limitado alcance, do qual se econtra excluída uma fracção significativa da população. Malgrado estes gritos serem genuínos e extremamente válidos, urge-nos encontrar novos espaços e, principalmente, espaços mais reverberativos.
Mãos à obra, o Porto merece!

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