terça-feira, 27 de julho de 2004

Elegia II - Da Arrábida



Alta Serra deserta, donde vejo
As águas do Oceano duma banda,
E doutra já salgadas as do Tejo
...
Daqui mais saüdoso o sol se parte;
Daqui muito mais claro, mais dourado,
Pelos montes, nascendo, se reparte.
...
Os olhos meus dali dependurados,
Pergunto ao mar, às plantas, aos penedos
Como, quando, por quem foram criados?

Respondem-me em segredo mil segredos,
Cujas primeiras letras vou cortando
Nos pés doutros mais verdes arvoredos.
...
Punha-me a ver correr as águas frias
Por cima de alvos seixos repartidas,
Que faziam tremer ervas sombrias.

As flores, que levava já colhidas,
Passando pelos vales enjeitava
Por outras doutra nova cor vestidas.
...
Cuidei que se esquecesse nesta Serra
A dura imiga minha natureza;
Mas donde quer que vou lá me faz guerra.
...
 
(Frei Agostinho da Cruz)

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