terça-feira, 24 de agosto de 2004

Eternuridades

Absolutamente imperdível a mais recente sequência de "posts" do Luís Gouveia Monteiro sobre "amores trágicos" (a expressão é dele, para mim trata-se de um pleonasmo).

"History will be kind to me for I intend to write it" (W. Churchill)

O período estival foi fértil em derivas erráticas do nosso, também ele errático, PM. Guiado por critérios básicos de higiene mental, abstive-me de as comentar neste espaço.
Este período de repouso do Portuense, repartido de forma patriótica entre o Alto Minho e o Algarve, salpicado por incursões pelo Alentejo e pela Estremadura serviu para confirmar uma suspeita antiga. Ninguém leva PSL a sério (a começar pelo próprio PSL), o que poderá ser uma perigosa vantagem em próximos escrutínios eleitorais. De facto, com expectativas tão baixas, a simples abstinência de erros de governação grosseiros pode ser um trunfo!

terça-feira, 10 de agosto de 2004

Lisbon Revisited

(...)
Não me macem, por amor de Deus!

Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer cousa?

Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que haveremos de ir juntos?

Não me peguem no braço!
Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho.
Já disse que sou sozinho!
Ah, que maçada quererem que eu seja de companhia!
(...)

Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo...
E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho!

(Fernando Pessoa, "Lisbon Revisited", 1923)

A rivalidade entre o Porto e Lisboa (1872)

(...) existe uma incurável rivalidade moral, social, elegante, comercial, alimentícia, política, entre Lisboa e Porto. Lisboa inveja ao Porto a sua riqueza, o seu comércio, as suas belas ruas novas, o conforto das suas casas, a solidez das suas fortunas, a seriedade do seu bem-estar. O Porto inveja a Lisboa a Corte, o Rei, as Câmaras, S. Carlos e o Martinho. Detestam-se. As damas de Lisboa riem-se da pouca distinção, da pequena ciência, da falta de chique e de quê das toilettes do Porto? O Porto, rubro de ódio, cobre as suas senhoras da sumptuosidade dos estofos e das faíscas dos diamantes. (...)

O Porto tinha a Foz, a praia de banhos, rica, de um grande pitoresco de paisagem. Lisboa, rancorosa, improvisa Cascais, sítio enfezado entre pinheiros éticos e rochedos de ópera cómica.

(Eça de Queirós, "Uma Campanha Alegre")