terça-feira, 10 de agosto de 2004

A rivalidade entre o Porto e Lisboa (1872)

(...) existe uma incurável rivalidade moral, social, elegante, comercial, alimentícia, política, entre Lisboa e Porto. Lisboa inveja ao Porto a sua riqueza, o seu comércio, as suas belas ruas novas, o conforto das suas casas, a solidez das suas fortunas, a seriedade do seu bem-estar. O Porto inveja a Lisboa a Corte, o Rei, as Câmaras, S. Carlos e o Martinho. Detestam-se. As damas de Lisboa riem-se da pouca distinção, da pequena ciência, da falta de chique e de quê das toilettes do Porto? O Porto, rubro de ódio, cobre as suas senhoras da sumptuosidade dos estofos e das faíscas dos diamantes. (...)

O Porto tinha a Foz, a praia de banhos, rica, de um grande pitoresco de paisagem. Lisboa, rancorosa, improvisa Cascais, sítio enfezado entre pinheiros éticos e rochedos de ópera cómica.

(Eça de Queirós, "Uma Campanha Alegre")


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