quinta-feira, 27 de maio de 2004

Gelsenkirchen, 26 de Maio de 2004




"E aqueles que por obras valerosas
Se vão da lei da morte libertando:
Cantando espalharei por toda parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte.

Cessem do sábio grego e do troiano
As navegações grandes que fizeram;
Cale-se de Alexandro e de Trajano
A fama das vitórias que tiveram;
Que eu canto o peito ilustre lusitano,
A quem Netuno e Marte obedeceram.
Cesse tudo o que a Musa antiga canta,

Que outro valor mais alto se alevanta."

(Luís de Camões, "Os Lusíadas")


segunda-feira, 10 de maio de 2004

O Porto, território dinâmico de afectos e cumplicidades

A cidade não poderia nunca ter chegado a esta letargia! A derrota no referendo à regionalização e o apagamento comprometido dos seus mais recentes líderes autárquicos não podem explicar em absoluto o gradual desaparecimento da geografia política, social, económica e cultural a que a urbe foi votada.
O momento é particularmente grave. A cidade encontra-se refém de um modelo de gestão economicista, cujas linhas estratégicas são definidas em termos de rubricas financeiras, como se a capacidade de administração da coisa pública fosse cabalmente avaliada num relatório e contas ou numa demonstração de resultados.
O adiado sonho portuense da metrópole centralizadora (prefiro chamar-lhe aglutinadora) do Noroeste peninsular vai-se comprometendo diariamente e soçobra exangue às mãos laboriosas do empreendedor engenho galego.
Isolados na olissiponense torre de marfim, os políticos da(o) capital rejubilam sornamente com a falta de rasgo, a subserviência, o esvaziamento intelectual e os tiques provincianos de um certo Porto que julgam conhecer. Na sua arrogância centralista, não conseguem perceber que a falência do capital económico e político do Norte é, a prazo, a falência de um dos esteios da identidade nacional no contexto da Europa das regiões. É também a falência de Lisboa, enquanto capital de um não-país.
Curiosamente, ou talvez não, assistimos hoje na blogosfera a um movimento em contra-corrente de afirmação da matriz idiossincrática portuense. Esta proliferação de blogs materializa um anseio colectivo que corta com a tradicional sociedade civil portuguesa, profundamente egoísta, ensimesmada e abúlica.
A blogosfera é, porém, um fórum de limitado alcance, do qual se econtra excluída uma fracção significativa da população. Malgrado estes gritos serem genuínos e extremamente válidos, urge-nos encontrar novos espaços e, principalmente, espaços mais reverberativos.
Mãos à obra, o Porto merece!

terça-feira, 4 de maio de 2004

Avenida dos Aliados

O Hoje Há Tripas dá as boas vindas ao seu novo vizinho na blogosfera. Entrem, estejam à vontade!
Contem com mais um aliado à vossa causa.

segunda-feira, 3 de maio de 2004

"King Lear" - uma tragédia política portuguesa

Durão Barroso (no papel de Lear) dirige-se, desgostoso, à sua filha Cordelia (M. Ferreira Leite) e remata com a sua preferência por Regan (Paulo Portas), irmã desta:





Lear - I prithee, daughter, do not make me mad:
I will not trouble thee, my child; farewell:
We'll no more meet, no more see one another:
But yet thou art my flesh, my blood, my daughter;
Or rather a disease that's in my flesh,
Which I must needs call mine: thou art a boil,
A plague-sore, an embossed carbuncle,
In my corrupted blood. But I'll not chide thee;
Let shame come when it will, I do not call it:
I do not bid the thunder-bearer shoot,
Nor tell tales of thee to high-judging Jove:
Mend when thou canst; be better at thy leisure:
I can be patient; I can stay with Regan,
I and my hundred knights.

(William Shakespeare, "King Lear")